Janet Jackson e Michael Jackson no Grammy Awards de '93.

Os anos 90 do Grammy: ignorando os transformadores sociais

O Grammy ignorou Dangerous. E isso diz muito.

A nova categoria de “Melhor Capa de Álbum” anunciada para o Grammy de 2026 poderia ser uma oportunidade de reverenciar capas que marcaram a história da música visualmente — mas o que a Recording Academy entregou foi uma seleção rasa, guiada mais pela nostalgia adolescente do que pela relevância artística.

Entre as 34 capas consideradas “icônicas” desde 1959, o Grammy simplesmente ignorou Dangerous (1991), de Michael Jackson. Uma das capas mais complexas, simbólicas e provocativas já produzidas na história da música pop.

A arte, criada por Mark Ryden, é um verdadeiro labirinto visual. Mistura crítica à fama, alegorias sociais, ocultamento da identidade e um mergulho no subconsciente do artista. É a imagem de um homem sob escrutínio global, escondido atrás de uma máscara dourada, em um mundo repleto de manipulação, espetáculo e inquietação. Isso não é só design gráfico — é comentário social, é arte em estado puro.

Mas o Grammy também esqueceu Ray of Light (1998), de Madonna, outro ícone da década. Uma capa simples, mas poderosa, que marcou sua reinvenção espiritual e emocional. Ao lado de Dangerous, Ray of Light representa uma década em que a imagem servia à transformação, não apenas à venda.

❌ O que entrou no lugar?

  • Britney Spears, ajoelhada com cara de anjo na capa de …Baby One More Time
  • blink-182 com uma atriz pornô vestida de enfermeira em Enema of the State
  • 2 Live Crew com a primeira capa com selo “Parental Advisory”

Não estamos aqui para menosprezar artistas — mas sim questionar os critérios da Academia. As escolhas feitas para representar os anos 90 foram superficiais, esquecendo que essa foi uma década em que o pop visualmente amadureceu, questionou, confrontou e se espiritualizou.

📢 O que Dangerous representava?

Michael Jackson estava mais introspectivo e artístico do que nunca. Sem as amarras de Quincy Jones, ele não colocou seus olhos na capa à toa. Ele se escondeu — e ao mesmo tempo se expôs. Cada elemento ali tem um significado. A obra já foi reconhecida por museus e exposições como uma das capas mais intrigantes e simbólicas da era dos CDs. Não era só sobre vender disco. Era sobre dizer algo que palavras não davam conta.

🧠 O Grammy se esquivou da profundidade

Ao deixar Dangerous de fora, a Academia basicamente disse: “Queremos capas que todo mundo reconhece, não as que incomodam ou fazem pensar.” O problema é que a música pop sempre foi sobre isso também — provocar, questionar, refletir o espírito do tempo.

Michael fez isso. Madonna também. E o Grammy, mais uma vez, parece não ter percebido.