This Is It: Michael Jackson e os bastidores de uma despedida | 53534433

This Is It: Michael Jackson e os bastidores de uma despedida

O reencontro aconteceu no Center Staging, em Burbank, durante os preparativos para This Is It. Já se haviam passado quatro anos desde que Michael Lee Bush, seu fiel estilista e assistente pessoal haviam se visto pela última vez. Ambos com 50 anos, mas em situações diferentes da vida. Michael entrou na sala com seu uniforme de sempre — chapéu fedora e óculos escuros — e caminhou diretamente em direção ao antigo parceiro. Apertou sua mão e, num gesto raro e simbólico, tirou os óculos. Não havia mais distância entre eles. O olhar dizia tudo: “Apertem os cintos”.

Em poucos minutos, a conexão foi restabelecida. Era como se o tempo não tivesse passado. Recuperaram o ritmo das antigas turnês, com uma diferença: o cronograma agora era esmagador. Era maio e o promotor queria tudo pronto até julho. Michael, no entanto, estava entusiasmado. “Vou poder ensinar aos meus filhos o que eu realmente faço para ganhar a vida”, disse sorrindo, ao mostrar um esboço de Billie Jean.

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Desenho do figurino de Billie Jean para o show This Is It

Mas a estrutura nos bastidores já não era a mesma. Havia quatro estilistas envolvidos e a posição de estilista-chefe foi para outro profissional — alguém que se recusava a desenhar para dançarinos. Ainda assim, os antigos parceiros (Michael Bush e Dennis Tompkins) aceitaram a missão de criar os figurinos. Sabiam que não estavam ali por status, mas por algo maior. “Estar ao lado de Michael era o que importava. Nossa função era trazer continuidade, confiança e familiaridade.”, recorda Bush.

Entre as ideias mais desafiadoras, surgiu uma que causou impacto imediato: Michael queria que a jaqueta vermelha de Beat It pegasse fogo ao final da apresentação. Ele a jogaria longe, em um ato teatral de sacrifício. O plano parecia inviável. Não só pelos 50 shows que exigiriam dezenas de jaquetas, mas também pelo trauma anterior — o acidente no comercial da Pepsi, em 1984. Ainda assim, a equipe não recuou. Foram atrás de tecidos resistentes ao fogo e normas britânicas de segurança. “Falhar não era uma opção. Queimar Michael Jackson era algo que ninguém queria carregar.”

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Jaqueta ”Beat It” que Michael Jackson usaria nos shows This Is It

Durante os ensaios, novas preocupações surgiram. Michael testava sapatos que não eram os tradicionais Florsheim, usava calças de couro e a luva de fibra óptica precisava de controle manual. Quem o conhecia nos palcos sabia: se algo saísse do controle, ele olharia imediatamente em busca de ajuda. Era o tipo de olhar que dispensava palavras. O assistente de figurino precisava ter sempre um plano B — e sabia que esse plano seria necessário mais cedo ou mais tarde.

Apesar de todas as mudanças, havia algo inegociável: Michael não pisaria no palco sem o antigo assistente ao seu lado. Essa lealdade dizia muito sobre a relação dos dois. Para Michael, não se tratava apenas de roupas ou figurinos. Tratava-se de confiança, história e respeito. Mesmo com tantos profissionais à disposição, ele buscava o conforto de quem conhecia seus gestos, seus sinais e suas urgências.

This Is It nunca chegou a acontecer como o mundo esperava. Mas os bastidores desse retorno revelaram muito mais do que ensaios ou performances. Revelaram um Michael Jackson apaixonado pelo que fazia, determinado a reconquistar seu espaço com dignidade e excelência. E, acima de tudo, mostraram um artista que, mesmo aos 50 anos, ainda acreditava que o melhor da sua carreira estava por vir.