Inspirado em um texto original publicado pela MJ Culture com acidez do antigo “Tá Lóides”
Não é só mais um documentário. É uma operação. Sim, uma operação midiático-forense, orquestrada com o timing cirúrgico de quem sabe exatamente quando plantar uma bomba: quando a cinebiografia de Michael Jackson finalmente começa a incomodar as estruturas. E quem aparece, como sempre, com sua lanterna suja de petróleo e seu bloquinho de calúnias? O TMZ — o Centrão do entretenimento americano.
O título do espetáculo é “Who Really Killed Michael Jackson?” — uma pergunta que só pode ser feita com a cara lavada de quem jamais olhou para o espelho depois de publicar “Wacko Jacko” por 15 anos seguidos.
A estratégia é velha: desconstruir o símbolo para manter o sistema. E nesse episódio da série “Vamos esconder a culpa da corporação?”, a vítima é Michael Jackson e o bode expiatório é… um cadáver. Literalmente. Arnold Klein, morto desde 2015, é apresentado como o chefão do vício, o Pablo Escobar de Beverly Hills. Conveniente, né? Um homem que não pode responder, não pode processar, não pode nem tossir — virou o novo culpado. Enquanto isso, Conrad Murray, médico condenado, reaparece como coitadinho injustiçado. Um mártir. Um Dom Quixote com estetoscópio e propofol.
E a AEG Live, produtora bilionária que contratou Murray e pressionou Michael até a exaustão? Sai ilesa, claro. Nunca é o capital o culpado. É sempre o artista. O rebelde. O que incomoda. O que canta They Don’t Care About Us.
A narrativa do TMZ é tão cuidadosamente moldada que quase dá pra ouvir os telefonemas noturnos entre produtores e advogados: “Vamos manter o foco no Klein, ok? Nada de cutucar a AEG. E cuidado com essa coisa de mostrar o Michael como um ser humano. Isso atrapalha o roteiro.”
Porque mostrar que Michael lutava contra dores reais, insônia crônica e a pressão de uma turnê insana é perigoso. Pode despertar empatia. Pode mostrar que ele era humano demais — e isso nunca foi aceitável para o império midiático que prefere monstros a mártires.
Então o que a gente vê? Um documentário embalado em trilha dramática, cheio de closes em médicos chorando e depoimentos de gente que aparece mais aliviada do que arrependida. O que não vemos? Laudos, documentos judiciais, o histórico real da morte. Porque se mostrassem, teriam que falar do nível letal de propofol no corpo. Da ausência de monitoramento cardíaco. Da mentira descarada de que o próprio Michael se automedicou enquanto Murray tomava um café. Seria ruim pro roteiro. Seria… verdade.
Mas calma que o melhor ainda vem: o timing. O documentário foi anunciado em 2022, e segurado como munição até agora. Justamente quando a cinebiografia oficial de Michael — com família envolvida, dados documentados e o potencial de lavar a alma do legado — começa a crescer. Coincidência? Só se você também acredita que os EUA invadiram o Iraque por causa de armas químicas.
A verdade é que isso aqui é parte de um padrão. É o imperialismo cultural limpando o terreno antes da verdade florescer. O TMZ age como braço sujo dessa engrenagem: prepara a narrativa, lança a confusão, humaniza o culpado e desumaniza o inocente. É tática de manual — provavelmente impresso na mesma gráfica do Pentágono.
E enquanto isso, lá estão os velhos comparsas — Dan Reed, por exemplo — preparando suas próximas tentativas de reaquecer os boatos, os arquivos distorcidos, as insinuações esfarrapadas. Tudo com selo de “urgência jornalística”, claro. É a mídia de esgoto travestida de justiça tardia.
O problema é que dessa vez eles erraram no cálculo. Porque a gente lembra. Lembra da autópsia. Lembra do julgamento. Lembra das imagens. E lembra do porquê tentam tanto nos fazer esquecer.
Michael Jackson foi vítima. De um sistema que lucra com a queda dos gênios. Que abençoa médicos omissos e canoniza corporações gananciosas. Que prefere cliques a verdades. Que mata uma vez com propofol — e depois com manchete.
Mas a mentira, essa anda rápido. Já a verdade? A verdade… corre maratonas. Com Moonwalk no meio.