O fim da Bad World Tour em 1989 parecia marcar apenas uma pausa nos palcos. Nos bastidores, Michael Jackson já vislumbrava um novo projeto: uma coletânea que resumiria sua década de ouro. O nome era direto e ambicioso: Decade: 1979–1989. O lançamento estava previsto para o Natal daquele mesmo ano. Mas o que prometia ser uma celebração, acabou se tornando um enigma arquivado.
Quatro músicas inéditas integravam a proposta original. Entre elas, estavam as futuras conhecidas “Black Or White” e “Heal The World”, além de “It Doesn’t Really Matter”, versão embrionária de “Who Is It”, e um cover ousado de “Strawberry Fields Forever”, dos Beatles. A ideia era unir sucessos consagrados com faixas novas, mostrando evolução sem perder as raízes.
Inicialmente, Jackson relutava. Ele não era fã da ideia de olhar para trás. Preferia criar o novo, experimentar sons, desafiar o presente. Mas a empolgação dos executivos da Sony, encantados com o que ouviram nos primeiros ensaios, o fez reconsiderar.
Veja como seria a arte de Decade: 1979–1989. A capa do álbum teria o rosto do MJ em relevo ainda na ‘’Era Bad
A virada aconteceu em julho de 1989. Michael, insatisfeito com o andamento das gravações, mandou suspender tudo. Seu perfeccionismo era conhecido, mas naquele momento, ele acreditava que as músicas ainda não estavam à altura do que o público esperava dele — e, mais importante, do que ele esperava de si mesmo.
Billie Jean
Beat It
It Doesn’t Really Matter **
The Girl Is Mine
Rock With You
She’s Out Of My Life
Thriller
Say Say Say
The Way You Make Me Feel
Dirty Diana
Heartbreak HotelBlack Or White
Bad
Come Together
I Just Can’t Stop Loving You
Heal The World
Don’t Stop ’Til You Get Enough
Smooth Criminal
Strawberry Fields Forever **
Man In The Mirror
Uma nova chance …
O projeto foi engavetado pela primeira vez. A gravadora, no entanto, não queria desistir. No ano seguinte, nova tentativa: Decade 1980–1990. A nova versão traria ainda mais músicas inéditas, incluindo uma versão adulta de “Never Can Say Goodbye”, “I’ll Be There”, além de “Men in Black”.
Mesmo assim, o lançamento foi adiado novamente. Motivo? Michael gravava tanto material inédito, que a gravadora percebeu que havia ali conteúdo suficiente para um álbum totalmente novo. O plano então mudou de direção. A coletânea foi cancelada — de vez — e em seu lugar nasceria Dangerous, lançado em 1991.
Duas joias seguem inéditas até hoje: “It Doesn’t Really Matter”, a primeira forma de “Who Is It”, e a inesperada interpretação de “Strawberry Fields Forever”. Ambas gravadas com dedicação, mas deixadas no cofre, longe dos ouvidos do mundo.
Michael passava noites em claro em estúdio, lapidando harmonias, ajustando batidas, regravando vocais. Era obcecado por detalhes. Não queria lançar algo apenas “bom”. Queria o extraordinário.
A gravadora insistia. Mas Michael Jackson tinha uma regra de ouro: nunca reciclar apenas por lucro. Ele acreditava na força da inovação. Preferia lançar um novo conceito a simplesmente reunir sucessos do passado.
Essa visão artística custou caro. Um projeto grandioso, com músicas que tinham tudo para se tornarem clássicos, acabou enterrado por seu criador. E talvez seja justamente isso que o torna ainda mais fascinante: um álbum-fantasma de um artista vivo, interrompido por sua própria busca pela perfeição.
O trabalho da capa de 1980-1990 já apresentava semelhanças com os olhos de Michael Jackson no álbum Dangerous:
Don’t Stop ’Til You Get Enough
Rock With You
Off The Wall
She’s Out Of My Life
Can You Feel It
This Place Hotel
Someone In The Dark
Wanna Be Startin’ Somethin’
The Girl Is Mine
Thriller
Beat It
Billie Jean
P.Y.T. (Pretty Young Thing)
Say Say Say
State Of ShockBad
The Way You Make Me Feel
Another Part Of Me
Man In The Mirror
I Just Can’t Stop Loving You
Dirty Diana
Smooth Criminal
Leave Me Alone
Come Together
I’ll Be There (Versão Adulta) **
Never Can Say Goodbye (Versão Adulta) **
Men in Black **
Who Is It
Gone Too Soon
Black Or White
Heal The World
A coletânea Decade tinha tudo para ser um marco. Mas o perfeccionismo de Michael venceu a pressão da indústria. Ele preferiu arriscar tudo em algo novo — e assim nasceu o revolucionário Dangerous.
A história desse álbum nunca lançado revela mais do que uma decisão de bastidores. Ela mostra como Michael Jackson era guiado por princípios artísticos profundos, que colocavam a autenticidade acima das expectativas comerciais.
E é por isso que o Rei do Pop permanece único. Não apenas pelos hits que lançou, mas também pelas obras que preferiu guardar. Obras que, ainda hoje, permanecem como mitos envoltos em silêncio e admiração.
