Quando Michael Jackson decidiu iniciar um novo ciclo em sua carreira, Teddy Riley foi o escolhido para um desafio à altura: assumir o posto de co-produtor do álbum Dangerous (1991), função antes ocupada por ninguém menos que Quincy Jones. Riley, já renomado como o criador do gênero New Jack Swing, trouxe uma nova energia para o estúdio.
No livro Michael Jackson: In The Studio, Riley relembra com detalhes o momento em que sentiu a pressão e o privilégio de trabalhar com o maior artista pop de todos os tempos. Era uma responsabilidade gigante, mas também uma chance única de deixar sua marca na história da música.
A Quinta Música e a Primeira Reação
Ao lado de Michael, Teddy Riley chegou a produzir cerca de 60 ou 70 músicas durante as sessões para Dangerous. Mas foi só na quinta tentativa que o impacto aconteceu. A música? “Remember the Time”. E a reação de Michael foi imediata.
Encantado desde a primeira audição, Jackson chamou Riley para fora do estúdio, sinalizando que aquele som era diferente. “Quero que você me surpreenda com essa música, disse Michael. A mixagem tem que ser impactante! Me expulse do estúdio!” Uma ordem clara: era hora de elevar o nível.
Teddy levou o pedido a sério. Ele sabia que “Remember the Time” precisava sacudir as pistas de dança, ser irresistível e moderna. E conseguiu. Criou uma batida poderosa, melódica e cheia de alma — uma assinatura do New Jack Swing, mas com o toque de realeza pop que Jackson exigia.
Para chegar nesse som, Riley buscou inovação. Queria que cada elemento da música fosse inesquecível, vibrante e preciso. Michael escutava tudo em volume altíssimo, querendo sentir o impacto físico da batida. Era mais do que música: era experiência.
Um Hit Imediato
“Remember the Time” foi lançado como o segundo single do álbum Dangerous — e o sucesso foi instantâneo. A música chegou ao topo das paradas em diversos países, consolidando o poder da nova fase de Jackson e provando que Riley era uma escolha certeira.
Com a batida envolvente, o refrão pegajoso e a produção impecável, a faixa rapidamente virou uma das favoritas do público e da crítica. Para Teddy Riley, foi a validação definitiva de que ele podia, sim, ocupar o lugar deixado por Quincy Jones — à sua maneira.
Mas a música era só o começo. Michael queria mais: um clipe que fosse tão marcante quanto a canção. E chamou John Singleton, diretor aclamado por filmes como Boyz n the Hood, para dar vida a essa visão.
Ambientado no Egito antigo, o videoclipe teve uma produção digna de superprodução hollywoodiana. Efeitos especiais, figurinos luxuosos, e uma estética cinematográfica fizeram do clipe um marco. E, claro, o elenco também era estelar: Eddie Murphy, Iman e Magic Johnson dividiram a cena com o Rei do Pop.

Um Curta-Metragem Disfarçado de Videoclipe
Com quase 10 minutos de duração, o clipe de “Remember the Time” foi mais do que um videoclipe: foi um evento. A estreia foi tratada como lançamento de filme, com expectativa global e cobertura da mídia.
Michael sabia que seus vídeos eram extensões da sua arte. E nesse caso, cada detalhe foi pensado para reforçar o poder visual da música, a sensualidade da coreografia e a atmosfera mística do Egito. Mais uma vez, ele entregou muito mais do que se esperava.
Décadas depois, “Remember the Time” segue atual. É sampleada, relembrada, remixada. E continua inspirando novas gerações de artistas e produtores. A batida de Riley e a performance de Jackson são atemporais.
Em tempos de músicas descartáveis, é difícil encontrar uma faixa que una talento, inovação e impacto cultural como essa. Michael e Teddy criaram uma obra que resiste ao tempo — e à memória.




