[Opinião] BTS grava Michael Jackson. E nós, o que fazemos com isso? | MJ Beats
BTS e Michael Jackson: faixas da Irlanda serão gravadas?

[Opinião] BTS grava Michael Jackson. E nós, o que fazemos com isso?

⚠️ Atenção: O Espólio de Michael Jackson declarou que “qualquer alegação de que o Estate autorizou e/ou apoia o projeto ‘From Heaven – A Tribute to Michael Jackson’ é falsa”. Leia a matéria completa aqui.

O que significa, afinal, ouvir hoje que o BTS gravou uma música inédita de Michael Jackson? É só mais uma jogada de marketing ou estamos diante de um encontro raro entre dois fenômenos que, mesmo separados por décadas e oceanos, viveram a mesma sina: transformar a própria vida em espetáculo global?

Michael-Jackson-Sighting-In-London-November-13-2006 [Opinião] BTS grava Michael Jackson. E nós, o que fazemos com isso?

Vale lembrar: não estamos falando de qualquer canção largada em um baú. Em 2006, Michael se isolou na Irlanda com os filhos, tentando respirar depois de tudo. Foram meses de refúgio criativo no Grouse Lodge, testando sons com will.i.am, abrindo espaço para batidas diferentes, compondo longe dos holofotes. Em uma entrevista daquela época, ele falava sobre devolver “o choque” à indústria da música. Não parecia um artista em declínio, mas alguém ainda tentando descobrir se valia a pena continuar no jogo.

E aí chegamos a 2025: quase vinte anos depois, um daqueles rascunhos deve ganhar corpo na voz do BTS — um grupo que, por mérito próprio, alcançou um pop universal que lembra o impacto de Michael em seu auge. E, pensando bem, essa parceria não chega a surpreender. É só olhar para “Dynamite”: aquele “just move like we off the wall” não foi jogado ali por acaso, assim como as referências sutis a “Break of Dawn” ou os movimentos que todo fã de Michael reconhece de longe. O tributo já estava sendo feito, só que agora deve ficar ainda mais explícito.

Bonito? Sim. Mas inquietante também. Porque, no fundo, o que estamos ouvindo não é só música — é o eco de um homem que foi buscar silêncio e acabou voltando, mesmo póstumo, para o barulho. E aí dá vontade de perguntar: Michael não teria o direito de guardar para si o que não quis mostrar? Kant talvez chamasse isso de preservar a dignidade, de não reduzir um homem a um recurso inesgotável para consumo.

Por outro lado, há algo de potente nesse gesto: fãs e artistas de outra geração tocando aquilo que Michael deixou inacabado e dando novos sentidos ao que ele começou. Talvez seja esse o verdadeiro sentido de um tributo: continuar uma conversa que ele iniciou.

E nós? Seguimos consumindo. Celebramos quando encontram mais um fragmento da obra de Michael, mas será que ainda ouvimos isso como fãs — ou apenas como caçadores de relíquias, satisfeitos com qualquer pedaço do que sobrou dele?