Ensaio para a Ebony em 2007: O Rei Retorna, sem Coroa e sem Máscara | MJ Beats
Michael Jackson posando para ensaio da revista Ebony em 2007, usando roupas prateadas e pretas com brilho, em frente a fundo neutro.

Ensaio para a Ebony em 2007: O Rei Retorna, sem Coroa e sem Máscara

Em 2007, Michael Jackson vivia um dos períodos mais silenciosos e, ao mesmo tempo, mais vigiados de sua vida. Dois anos após o veredicto de 2005 que o absolvera, o cantor estava distante da mídia americana, mas cercado de rumores: finanças em colapso, saúde frágil, reclusão voluntária. Foi nesse cenário que a revista Ebony anunciou um feito raro: um ensaio fotográfico e uma entrevista exclusiva com o Rei do Pop.

O Ensaio: 24 de setembro de 2007

O local escolhido para o ensaio não foi casual. Embora a imprensa tenha noticiado à época que a sessão acontecera em “um museu do Harlem”, a verdade é que Michael quis estar no Brooklyn Museum. Não era apenas uma locação bonita: era uma escolha simbólica. Rodeado por arte antiga e contemporânea, Jackson se posicionava como parte dessa história cultural maior, não como celebridade passageira.

O fotógrafo Matthew Rolston, conhecido pelo glamour hollywoodiano, descreveu a naturalidade com que Michael se movia diante das lentes: elegante, seguro, dono de cada gesto. A diretora criativa Harriette Cole recordou a atmosfera como “mágica”, destacando a gentileza do artista, que agradecia desde o segurança até o operador de elevador. Já o estilista Phillip Bloch resumiu a impressão coletiva: “Ele parecia saudável, confiante e feliz”.

Sem máscaras, sem luvas, sem disfarces, Jackson mostrou-se inteiro. Mais do que posar, ele dirigia o processo, selecionando roupas, sugerindo ângulos, demonstrando entusiasmo pelo trabalho. Foi um momento de reconciliação entre a imagem pública e o homem por trás dela.

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Michael Jackson em ensaio fotográfico para a revista Ebony, setembro de 2007.

A Entrevista: 25 de setembro de 2007

No dia seguinte, Harriette Cole conduziu a entrevista que se tornaria a primeira grande conversa de Michael com uma revista americana em uma década. O cantor falou sobre o aniversário de 25 anos de Thriller, sobre sua paixão criativa, sobre a paternidade e sobre o futuro da indústria musical.

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Ele descreveu sua arte como uma mistura de “ciência e magia” e reafirmou seu papel como diretor absoluto de sua própria narrativa visual: “Eu dirijo e edito tudo o que eu faço. Cada take que você vê é meu.” Era um lembrete de que, mesmo em meio a crises, ele se via como criador soberano.

Houve também uma confissão que hoje soa como premonição. Questionado se se apresentaria aos 80 anos, respondeu: “A verdade é, não, não do jeito que James Brown fez ou Jackie Wilson fez, onde eles simplesmente se esgotaram, eles se mataram.” Dois anos depois, morreria às vésperas de uma turnê de 50 shows — exatamente o tipo de esforço que parecia querer evitar.

O Retrato de um Homem Inteiro

O que emerge daqueles dois dias em setembro de 2007 não é a caricatura frágil que dominava os tabloides, mas um artista no controle. Cole viu nele “um senso de paz palpável”. Rolston enxergou um profissional impecável, capaz de transformar roupas e gestos em narrativa. Bloch destacou sua confiança e alegria.

O ensaio e a entrevista não foram apenas mais um trabalho editorial: foram o primeiro passo de um Michael Jackson decidido a retomar sua história em seus próprios termos.

No Brooklyn Museum, ele não foi o mito perseguido, nem a vítima de rumores. Foi o homem no comando, artista absoluto, presente e seguro de si. Um raro instante em que a história deixou de falar sobre ele — e passou, enfim, a falar com ele.

Crítica final: talvez o maior paradoxo esteja aí. Michael reconquistou sua narrativa por um breve momento, mas não teve tempo de sustentá-la. A indústria que ele tentou dobrar voltou a engoli-lo — e esse ensaio permanece como prova do artista que ainda queria escrever o próprio destino.