por Lisa Robinson, jornalista musical, autora, editora colaboradora da Vanity Fair
Conheci Michael Jackson pela primeira vez no início dos anos 1970, na casa de sua família em Encino, enquanto eu editava a revista Rock & Soul. Ele me recebeu com entusiasmo, me mostrou os animais da família e depois passamos horas juntos na piscina. Michael era encantador, curioso e cheio de perguntas — queria saber como meu marido fazia truques de mágica, se Alice Cooper era realmente assustador, se eu já havia conhecido Elizabeth Taylor e como era estar em turnê com o Led Zeppelin.
Ao deixar a casa naquele dia, liguei para minha melhor amiga, Fran Lebowitz. Contei empolgada que tinha acabado de conhecer um garoto que, sem dúvida, se tornaria o maior artista de todos os tempos. Ela me perguntou como eu podia ter tanta certeza. Eu apenas sabia.

Com o passar dos anos, nossas conversas se multiplicaram. Falávamos ao telefone, nos encontrávamos em Nova York durante as filmagens de The Wiz, e até fizemos uma visita a Studio 54. Estive com ele em camarins do Madison Square Garden, nas coxias do Grammy no Radio City Music Hall e até em sua suíte de hotel em Kansas City, durante a turnê Bad. Entre os gestos de amizade, lembro que ele me enviou flores quando minha mãe faleceu. Em troca, enviei-lhe um estojo de perfume Jungle Gardenia, que ele adorava.
Esses encontros revelavam um Michael longe das câmeras: generoso, atencioso e capaz de criar laços sinceros. Ele não era apenas o astro que encantava multidões, mas também alguém que se preocupava com os detalhes da vida das pessoas que o cercavam.

A última vez que o vi foi em um momento histórico. Era a noite em que Michael seria introduzido no Rock and Roll Hall of Fame como artista solo. Entrei pelos bastidores do Waldorf Ballroom — na verdade, a cozinha servia de área de passagem. Seus seguranças tentaram me barrar, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ouvi a voz firme de Michael: “Está tudo bem, ela é minha amiga.”
Foi apenas uma frase, simples e direta, mas carregada de significado. Aquela voz, diferente do sussurro tímido que ele costumava usar em público, soou como um lembrete de quem ele realmente era — humano, leal e consciente das conexões que construíra ao longo da vida.
Não imaginava que aquela seria a última vez que nos veríamos. Mas talvez seja exatamente assim que se guardam as grandes memórias: no instante em que a amizade fala mais alto do que a fama, e o artista se revela, acima de tudo, como pessoa.




