A noite em que Michael Jackson reviveu sua própria HIStória | MJ Beats
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A noite em que Michael Jackson reviveu sua própria HIStória

Por mais de vinte anos, Dan Beck trabalhou lado a lado com alguns dos maiores artistas da Epic Records. Passou de executivo de publicidade a vice-presidente sênior de marketing e vendas, vivendo o auge da gravadora. Entre os nomes com quem colaborou estavam Sade, Cyndi Lauper, Cheap Trick, Pearl Jam, Gloria Estefan e Luther Vandross — artistas que marcaram uma era dourada da música.

Mas entre todos eles, Michael Jackson ocupava um lugar especial. Beck trabalhou intimamente com o Rei do Pop durante as fases “Dangerous” e “HIStory”, atuando como gerente de produto nesta última. Em seu livro You’ve Got Michael: Living Through HIStory, lançado pela Trouser Press Books, ele compartilha lembranças desse período de convivência intensa, incluindo momentos dentro do apartamento de Jackson na Trump Tower, em Nova York, no meio da década de 1990.

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Em 1994, Michael deixou a Califórnia e se mudou com sua equipe para Nova York. Durante as gravações na Hit Factory, na Rua 54 Oeste, ele alugou um apartamento de vários andares na Trump Tower, na Quinta Avenida. Os moradores usavam uma entrada na Rua 56 Leste — apenas 50 metros da entrada do prédio da Sony. “Meu escritório, no 21º andar, dava para a Rua 56; eu quase conseguia ver pela janela do apartamento de Michael”, relembra Beck.

Ao entrar pela primeira vez no local, Dan ficou surpreso. A aparência do apartamento era modesta, considerando a fama e a reputação luxuosa do edifício. O corredor do elevador não tinha decoração, a porta se abria para uma pequena cozinha e as duas salas de estar do andar inferior pareciam um apartamento corporativo básico. “Sem nenhum objeto pessoal de Michael, parecia uma grande suíte de hotel”, descreve.

A maioria dos encontros entre Beck e Jackson ali era breve. Ele entregava informações de pesquisa solicitadas por Michael ou discutia rapidamente detalhes do lançamento de HIStory. Mas uma reunião, no início de 1995, foi diferente — e muito mais importante.

Um dos principais desafios era decidir quais fotos incluir no encarte do álbum. A equipe já havia calculado o custo adicional de um livreto de 52 páginas para o CD e um equivalente para o vinil. No formato de 12 polegadas, o trabalho era mais simples, já que as imagens seriam grandes e detalhadas. Porém, os livretos das fitas cassete e do CD duplo exigiam adaptação das imagens em menor escala, o que tornava a seleção ainda mais delicada.

Como escolher entre tantas décadas de carreira? Depois de uma conversa com Michael, ele informou que seu assistente reuniria um conjunto de fotos para análise. A diretora de arte da Epic, Nancy Donald, voaria para Nova York para que ela, Beck e o cantor pudessem finalizar a seleção. Pouco depois, uma reunião foi marcada na Trump Tower.

Naquela sexta-feira à noite, Nancy e Dan atravessaram a rua até o apartamento de Michael. A cozinheira os recebeu e os conduziu até a sala de estar. Lá, encontraram uma pilha imensa de caixas, com cerca de um metro e meio de altura, repletas de fotografias. “Cada caixa estava cuidadosamente embalada com fotos 8×10 abrangendo a vida de Michael”, relata Beck.

As imagens mostravam Michael com estrelas de Hollywood como Elizabeth Taylor, com presidentes dos Estados Unidos, Desmond Tutu, a Rainha Elizabeth, imperadores, reis tribais da África e muitos outros. Havia fotos de shows, multidões, visitas a hospitais, encontros com crianças e momentos solitários. Beck descreve o impacto: “Como poderíamos reduzir tudo isso a um encarte em CD?”.

Pouco depois, Michael desceu as escadas correndo do quarto do andar superior e se juntou a eles. Sentado no patamar, ele observava enquanto Dan e Nancy, de pernas cruzadas no chão, abriam a primeira caixa. Nas horas seguintes, eles passaram foto por foto. Beck conta que Michael reagia a cada imagem, muitas vezes compartilhando lembranças do local e da época. “Foi uma experiência extraordinária ver os olhos de Michael se iluminarem enquanto ele redescobria inúmeros momentos mágicos de sua vida”, escreve.

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Para eliminar uma foto, Michael apenas dizia um discreto “ok”. Mas quando realmente queria uma, reagia com entusiasmo e dizia, rindo: Preciso… ou vou morrer!”. A frase se repetiu várias vezes durante a noite, e os três riram constantemente enquanto trabalhavam. O grupo passou horas sem parar nem para comer, em uma verdadeira maratona de memórias.

Quando o relógio se aproximava da manhã, o trio havia reduzido a seleção para cerca de duzentas fotos — ainda muitas para um livreto de cinquenta e duas páginas. Mesmo exaustos após sete ou oito horas de trabalho, Dan e Nancy sabiam que precisavam continuar enquanto Michael estivesse concentrado. Em várias ocasiões, ele insistia em manter certas imagens, e Beck compreendia. “Todos aqueles eram momentos mágicos da vida dele”, escreveu.

À medida que a luz fraca do amanhecer atravessava as cortinas da sala, Beck percebeu o quanto estava cansado. Michael, por outro lado, parecia incansável. “Poucos artistas de qualquer porte teriam colaborado como ele naquela noite”, afirma. No fim, conseguiram concluir a seleção que se tornaria o encarte definitivo de HIStory. “Tínhamos realmente virado a noite e conseguimos reduzir o encarte do CD para cinquenta e duas páginas.”

Ouça HIStory: Past, Present and Future, Book I: