Michael Jackson tinha uma visão: transformar a música em espetáculo, o videoclipe em cinema e o medo em algo fascinante. Ao assistir Um Lobisomem Americano em Londres, percebeu que o terror podia ser divertido, criativo — e dançante. Essa mistura entre susto e humor despertou nele o desejo de fazer algo que ninguém jamais havia feito. E assim nasceu a ideia de Thriller, o videoclipe que mudaria a história da cultura pop.
Para dar vida à sua visão, Michael chamou Rick Baker, o maquiador lendário que havia criado os efeitos de Um Lobisomem Americano em Londres. Rick aceitou o desafio de transformar o rei do pop em uma criatura sobrenatural — não apenas com maquiagem, mas com arte e engenhosidade. O processo começava com o chamado life cast, uma espécie de molde do rosto de Michael, feito com os dentes de lobisomem colocados. Isso era essencial para garantir que cada peça de prótese encaixasse perfeitamente, acompanhando até as distorções do rosto.

O grande obstáculo era o tempo. A equipe precisava maquiar 30 zumbis com apenas 20 maquiadores, o que tornava cada minuto precioso. Foi o maior time que Rick Baker já liderou. A transformação de Michael, planejada em acetato quadro a quadro, começava sutil: lentes amarelas, dentes afiados e o uso de espuma de borracha para criar o efeito de transformação. Pequenos tubos escondidos sob a máscara enchiam de ar as bolsas de látex, simulando o rosto se expandindo. Um truque artesanal que ainda hoje impressiona.
Enquanto Michael suportava horas de maquiagem, Rick usava técnicas ensinadas por seu pai, um artista plástico. Com tinta à base de gordura, ele criava luz e sombra, dando profundidade ao rosto. Eram produtos rudimentares se comparados aos de hoje, mas o resultado foi marcante. “Naquela época, não tínhamos nada parecido com as tintas à base de álcool que usamos agora”, Rick contaria anos depois. “Mas fizemos funcionar — e funcionou melhor do que imaginávamos.”

Quando os figurinos, perucas e próteses estavam prontos, a câmera começou a rodar. O mundo veria Michael se contorcer, gritar, e se transformar em um lobisomem diante dos olhos da atriz Ola Ray. Tudo filmado como um curta-metragem de terror clássico, dirigido por John Landis, o mesmo de Werewolf. Era o casamento perfeito entre Hollywood e o pop. E o resultado foi hipnotizante.
O impacto foi imediato. Thriller não era apenas um clipe: era uma experiência cinematográfica, com enredo, maquiagem de cinema e uma coreografia que redefiniu o que um videoclipe poderia ser. As fronteiras entre música e cinema foram apagadas. O terror, antes reservado a filmes sombrios, ganhou ritmo, brilho e batidas dançantes. O medo se tornou entretenimento.
Mais de quatro décadas depois, o vídeo de Thriller continua sendo uma obra-prima. A maquiagem de Rick Baker segue icônica, o som inconfundível, e a transformação de Michael Jackson, eterna. Foi o momento em que o terror vestiu luvas brilhantes e começou a dançar.




