O relógio se aproxima das dez da noite. O show está prestes a começar. No gramado do Estádio do Morumbi, 70 mil pessoas formam uma massa viva de ansiedade. O som de “Hey Jude”, dos Beatles, ecoa pelos alto-falantes.
Então, às 21h45, a melodia muda. As primeiras notas de Carmina Burana invadem o ar, e o público entende que o momento chegou. As batidas da orquestra sacodem o chão; o som é quase físico. Nos telões, imagens de Michael Jackson surgem em sequência — seus passos, seus olhos, sua silhueta em contraluz. Cada cena provoca gritos que se misturam em ondas. De repente, uma explosão no centro do palco corta a escuridão. Labaredas douradas se espalham pelo ar, uma chuva de faíscas cai sobre o cenário. E então, entre fumaça e luz, ele aparece.
Vestido de preto, óculos escuros, Michael Jackson está imóvel. O silêncio se instala — o tipo de silêncio que antecede algo histórico. Por um instante, muitos acreditam que seja um boneco, uma projeção. Mas ele move a cabeça. Um gesto mínimo, e o estádio inteiro entra em colapso emocional. Gritos, lágrimas, descrença. Homens adultos choram, adolescentes se abraçam, mães levantam seus filhos para que vejam o Rei de perto. Michael está ali, a poucos metros da multidão, e parece impossível acreditar nisso.
Do alto, as imagens aéreas mostram o Morumbi: o estádio lotado seria exibida no Jornal Nacional do dia 15 de outubro de 1993:




