Há uma ferocidade silenciosa na forma como a história corrige injustiças. Enquanto a internet atual, em um frenesi de desinformação, tenta desesperadamente colar a imagem de Michael Jackson a listas de políticos corruptos e escândalos de exploração sexual, a realidade dos fatos se impõe como uma barreira intransponível. Tentar arrastar Michael para o lamaçal ético de Hollywood não é apenas calunioso; é uma contradição biográfica fundamental.
Michael Jackson não foi uma vítima acidental do isolamento; ele o estabeleceu como sua linha de defesa. O que a mídia rotulou por décadas como “bizarro” ou “antissocial” foi, na verdade, uma rejeição moral consciente a um sistema que ele desprezava.
A Repulsa à Futilidade
Em registros de áudio gravados na virada do milênio, a postura de Michael não é de timidez, mas de um julgamento afiado sobre seus pares. Quando questionado sobre a ausência de laços com outras estrelas, ele foi taxativo: “Eu não tenho amigos em Hollywood. Muito poucos”.
Essa frase carrega um peso que desmonta qualquer teoria de conspiração recente. Michael enxergava a elite do entretenimento não como companheiros, mas como figuras “não autênticas”. Enquanto a indústria celebrava o hedonismo em clubes noturnos, regados a “licor e maconha”, Michael classificava esse comportamento como “loucuras” que ele se recusava a praticar.
Não havia terreno comum. “Não temos nada em comum”, ele sentenciou. Essa falta de afinidade o salvou. Você não é convidado para conspirações de bastidores se você sequer aceita o convite para a festa depois da premiação.
Neverland como Trincheira
É aqui que a criação de Neverland deve ser relida não como um capricho infantil, mas como um ato de resistência cultural. Michael não construiu aquele lugar apenas para se divertir; ele o construiu para não precisar ir a Los Angeles. Neverland era a antítese de Hollywood. Era um santuário de inocência construído deliberadamente para manter do lado de fora a podridão que, ele sabia ou intuía, consumia a indústria.
A ironia é cortante: o mundo zombou dele por preferir a companhia de desenhos animados e brinquedos, chamando-o de “Wacko Jacko”. Hoje, enquanto os ídolos “normais” daquela época caem um a um, expostos em suas perversões adultas e conexões políticas obscuras, a “estranheza” de Michael se revela como sua maior virtude.
Associar Michael Jackson à sujeira que está sendo exposta agora é ignorar a evidência mais clara de sua vida: ele não estava na sala. Ele não estava nas ilhas privadas. Ele não estava nas reuniões secretas. Ele estava ocupado demais sendo “excentricamente” puritano, protegendo sua arte e sua alma de um mundo que ele diagnosticou, muito antes de nós, como doente. Seu isolamento não foi uma falha; foi sua armadura.
Por Isaque Souza, MJ Culture




