Para entender por que Michael Jackson foi (e ainda é) alvo constante de tentativas de deslegitimação, é preciso olhar além da música. Michael não influenciava apenas tendências sonoras ou visuais. Ele tocava consciências, atravessava culturas e mobilizava emoções em escala global, algo que poucos indivíduos na história conseguiram fazer.
Em 1988, isso ficou claro de forma concreta. Na época de um show próximo ao Muro de Berlim, a polícia secreta da Alemanha Oriental abriu um arquivo de vigilância sobre Michael. O motivo não era exagero: as autoridades temiam que sua presença inspirasse jovens do lado oriental e provocasse questionamentos, agitação social ou até desobediência.
O receio chegou a um nível quase surreal. O governo local chegou a contratar um sósia de Michael Jackson, preparado para intervir caso o artista fizesse algum gesto ou declaração considerada perigosa. Isso mostra que não se tratava de música alta ou fãs animados, mas de influência simbólica real.
No entanto, Michael não precisou de nada extremo. Bastou dizer frases simples como “somos todos um” e “não existem fronteiras”, dirigindo-se aos fãs do outro lado do muro. Em um contexto de divisão política rígida, aquelas palavras tinham um peso que nenhum discurso oficial conseguia neutralizar.
Esse episódio ajuda a colocar tudo em perspectiva. Um único artista, com poucas frases, era capaz de alcançar milhões e provocar reflexões profundas. Esse tipo de poder sempre foi observado de perto por governos, inclusive pelos Estados Unidos, que ao longo dos anos permitiram direta ou indiretamente o desgaste de sua imagem pública.
Governos, de forma geral, se sustentam em narrativas de nacionalismo, separação, excepcionalismo e medo. Michael ia na direção oposta. Ele falava de união, empatia e humanidade comum. Sua mensagem não reforçava fronteiras, ela as tornava irrelevantes.
O alcance de Michael atravessou países, religiões, idiomas e ideologias de um jeito que políticos e até líderes religiosos raramente conseguem sozinhos. Ele não precisava de cargos ou instituições. Sua credibilidade vinha do afeto genuíno das pessoas.
E é justamente aí que mora o desconforto. Amor coletivo, sem controle central, é visto como ameaça por quem lucra com divisão e medo. Michael Jackson representa a prova de que a união popular pode ser mais forte do que qualquer sistema baseado em separação.




