Em janeiro de 1985, a música norte-americana presenciou uma de suas noites mais emblemáticas. Reunidos em um só estúdio, as maiores estrelas se juntaram para dar vida a “We Are the World“, escrita por Michael Jackson e Lionel Richie, um hino atemporal de união e solidariedade.
Idealizado por Harry Belafonte, o projeto se tornou um marco de compaixão, um testemunho de que, quando o propósito é maior que o ego, algo extraordinário pode acontecer.
Quincy Jones, o renomado produtor musical, estava à frente dessa missão. Com sua experiência e sensibilidade, Quincy sabia que o maior desafio naquela noite não seria apenas alinhar vozes e melodias, mas sim fazer com que cada artista deixasse seu ego do lado de fora. Como lembrete, ele afixou na entrada do estúdio um recado que se tornou célebre:
“Check your ego at the door” (“Deixe seu ego do lado de fora”). A mensagem foi clara e direta – ali, cada um deveria contribuir para um bem maior, não para alimentar a própria vaidade. Era uma lição que transcende a música, uma lição de humildade que ecoa em qualquer ambiente onde o sucesso coletivo depende da disposição de cada um de ouvir e se integrar ao todo.
A presença de Bob Geldof, que pouco antes havia liderado o Band Aid, foi decisiva para dar início aos trabalhos. Ele falou sobre a fome devastadora que assolava o continente africano, um testemunho que emocionou e inspirou todos ali presentes. Ao colocarem o propósito comum acima de qualquer individualidade, artistas que até então competiam pelos holofotes decidiram se unir.
Nas corporações, o mesmo vale: quando o propósito é claro e compartilhado, equipes podem se transformar em algo muito maior, construindo não apenas projetos, mas legados que ultrapassam os limites do esperado.
Houve ainda outra lição poderosa: a importância do autoconhecimento. Quincy Jones, sempre atento às capacidades e limitações de cada um, pediu que apenas aqueles que conseguissem alcançar as notas mais agudas participassem do refrão – os demais, ele orientou que respeitassem sua própria voz e contribuíssem de outras formas.
A simplicidade desse pedido é um lembrete sobre humildade e o valor de conhecer os próprios limites, evitando assim conflitos desnecessários e garantindo que a harmonia se mantenha. Naquela noite, cada artista respeitou sua própria voz, e o resultado foi um coro que ressoou para além da música.
We Are the World é mais que uma canção; é uma prova de que, quando talentos distintos se encontram pelo propósito maior, o impacto é inevitável.
Em uma só noite, poderia haver atritos, inseguranças e vaidades, mas prevaleceu a entrega genuína. Essa foi a mágica de Quincy e de todos que ali estiveram – eles entenderam que a grandeza se alcança quando o ego cede espaço para o poder da união.