Michael Jackson e Paul McCartney: do estúdio à disputa pelo catálogo dos Beatles | MJ Beats
Paul McCartney e Michael Jackson em ensaio.

Michael Jackson e Paul McCartney: do estúdio à disputa pelo catálogo dos Beatles

Era Natal. Paul McCartney estava em casa quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, uma voz suave e inconfundível:
“Hey Paul, quer fazer uns hits?”
Era Michael Jackson.

O convite parecia inocente. Em pouco tempo, os dois estariam juntos na Inglaterra, trocando ideias, rindo e compondo. Daquela parceria nasceriam The Girl Is Mine e Say Say Say. “Ele era ótimo para estar por perto, um cara gentil e muito talentoso”, Paul lembraria depois. Naquela época, os dois estavam no auge da amizade — até que um conselho mudaria tudo.

Durante uma das conversas, Michael pediu dicas de negócios. Paul, já experiente no mundo da música, disse:
— “Você devia pensar em investir em publishing (direitos autorais). É um ótimo negócio para um músico. Eu faço e funciona muito bem.”

Michael ouviu, sorriu e respondeu:
“I’m going to get yours.” (“Vou comprar os seus [direitos autorais].”)

Paul riu. Achou que era só uma piada. Michael repetiria a frase algumas vezes nas semanas seguintes, sempre com aquele tom leve. Até que deixou de ser brincadeira.


Para entender a mágoa de Paul, é preciso voltar a 1969, quando a Northern Songs — que controlava as músicas de John Lennon e Paul McCartney — foi vendida para a ATV. Paul e John estavam na Índia, e Dick James, dono da editora, fechou o negócio sem aviso. “Você não pode fazer isso”, Paul reclamou. “Quer apostar?”, respondeu James, com os 51% da empresa na mão.

Anos depois, Paul teve a chance de recomprar o catálogo. Ligou para Yoko Ono propondo rachar: 10 milhões para cada. Ela achou que conseguiria por 5. Mas o preço disparou, e a oportunidade se perdeu.


Em 1985, a ATV estava novamente à venda. Paul foi consultado, mas achou caro demais pagar mais de 40 milhões de dólares. Yoko também ficou de fora. Michael, recém-saído do sucesso estrondoso de Thriller, tinha caixa e apetite para fechar rápido. No dia 14 de agosto, assinou o cheque: US$ 47,5 milhões.

Quando Paul recebeu a notícia, não acreditou. Ligou para tentar um acordo: queria que, finalmente, Lennon e McCartney tivessem “um bom negócio” com suas próprias músicas. Mas a resposta de Michael foi a mesma da velha piada:
“That’s just business, Paul.” (“São apenas negócios, Paul”).


O golpe final veio com o uso das canções em publicidade, algo que os Beatles sempre evitaram para preservar a integridade artística. Quando Revolution apareceu num comercial de tênis, Paul sentiu que as músicas estavam sendo “desvalorizadas”. Tentou conversar com Michael, mas ouviu novamente: “Isso é só negócio.”


A amizade esfriou. Não houve briga pública, mas o distanciamento foi inevitável. Ainda assim, em alguns momentos entre os anos 80 e 90, Paul e Linda McCartney visitaram Michael — momentos cordiais que mostrava que, apesar das mágoas, restava respeito.

Anos depois, Paul resumiria a história com um misto de afeto e resignação:

“Ele era um homem adorável, massivamente talentoso. Nós sentimos falta dele.”

E assim, o conselho de um amigo virou o negócio mais comentado da história da música — um negócio que, para um, foi genial; para o outro, uma ferida que nunca fechou.