‘‘Último saxofonista a tocar com Michael Jackson, o brasileiro Miguel Gandelman teve o privilégio de presenciar o Rei do Pop dançando a “três passos” de distância.’’
Miguel Gandelman e sua banda, The Horne, foram convidados pela produção da turnê “This Is It” para se juntarem à equipe de músicos de apoio dos 50 shows planejados para a O2 Arena, em Londres. Gandelman ensaiou por dois dias com Michael Jackson em maio e estava prestes a assinar um contrato de dois anos para acompanhar o Rei do Pop em sua última turnê, que, ao que tudo indicava, não se limitava apenas às apresentações na Inglaterra.
Em julho de 2009, o saxofonista concedeu uma entrevista à jornalista Mônica Bergamo. Relembramos a entrevista. Confira:
FOLHA — Como foi tocar com Michael Jackson?
MIGUEL GANDELMAN — A banda foi disposta de forma que ele ficasse de frente pra gente. O cara estava a três passos de mim. A gente olhando nos olhos dele. [Vimos de perto] ele dançando, sorrindo, gritando e fazendo as “paradas” dele. Tocamos “Thriller”, “Jam”, “The Way You Make me Feel”, “Wanna Be Starting Something”. Eu fui o último saxofonista a tocar com o Michael. Tive o privilégio de ter feito ele dançar com a minha música. Isso é uma coisa divina que eu vou guardar para o resto da minha vida.
FOLHA — Ele dava palpites no trabalho dos músicos?
GANDELMAN — O Michael era o cara que tinha a palavra final em tudo o que acontecia na produção. Ele dirigia a música inteira, do tom da guitarra ao “groove” (suingue) da bateria. Ele dizia: “O som não é esse, é mais assim, é mais assado”. Ele era um dos artistas mais completos que eu já vi.
FOLHA — Ele aparentava que estava doente?
GANDELMAN — Ele estava com uma camiseta normal, branca, e com um jeans. Este negócio que diziam que ele tinha hematomas no braço… não tinha nada disso. A cara e a voz dele não tinham nada de diferente. Ele era um ser humano normal, um homem normal. Ele sempre foi uma pessoa magra, mas nada de “Ai, meu Deus, coitado desse cara”.
FOLHA — Vocês notaram alguma bizarrice?
GANDELMAN — Ele era uma pessoa muito tímida, só isso. Mas você sentia a pureza, a “vibe”, a aura, o quão puro o cara era. Ele era uma pessoa muito abençoada, uma pessoa divina.
FOLHA — Mesmo se ele não tivesse morrido, esta seria a última turnê?
GANDELMAN — Todos nós sabíamos. A gente sabia qual era o projeto. O diretor musical, Michael Bearden, queria fazer desta última turnê do Michael a maior, visual e musicalmente.
FOLHA — E o que os fãs vão deixar de ver?
GANDELMAN — Michael Jackson estava com todo um repertório novo de danças, que ninguém nunca tinha visto. A gente é amigo dos bailarinos que faziam parte da turnê. Eles disseram que ficaram chocadíssimos quando viram o Michael no ensaio fazendo novos movimentos de dança que ele nunca tinha feito.
por Mônica Bergamo, Folha do Estado de São Paulo em 13 de julho de 2009