Michael Jackson: gênio, enigma e revolução disfarçada de pop | MJ Beats
Michael Jackson de braços abertos com o público atrás durante performance de 'Heal The World' na 'HIStory World Tour'

Michael Jackson: gênio, enigma e revolução disfarçada de pop

Há artistas que desafiam os limites da arte. Outros desafiam os limites da própria sociedade. Michael Jackson fez ambas as coisas — com luvas brilhantes e acusações pesadas nas costas. Como se dança no fio da navalha entre gênio e polêmica?

O garoto que não pedia licença: abria caminho

Michael Jackson nasceu em Gary, Indiana, em 29 de agosto de 1958. Um garoto prodígio que, à frente do Jackson 5, já mostrava que não se tratava de um talento comum. Mas Michael não queria apenas cantar ou dançar. Ele queria ser inevitável.

O artista que forçou o sistema a mudar

Nos anos 80, a MTV parecia uma vitrine exclusiva para artistas brancos. Até que veio Thriller. A pressão não vinha só de produtores: “Vocês não podem se chamar de TV musical se Michael Jackson não está no seu canal”. Quando seus clipes estrearam, a audiência explodiu. E a MTV precisou aprender o que significa ser musical de verdade.

Em 1983, a propaganda era direta: “Thriller: tenha esse disco ou jogue seu aparelho no lixo”. O mundo entendeu: aquilo não era apenas um álbum, era um marco civilizatório no entretenimento. Cada disco seguinte carregou esse peso. Bad levou o pop às proporções globais de uma turnê moderna. Dangerous apostou em multimídia antes que essa palavra virasse clichê. HIStory foi manifesto político antes de ser disco.

A política que incomodava

Quando gravou They Don’t Care About Us no Brasil, em 1996, Jackson não estava vendendo turismo. Ele estava denunciando. Violência, racismo, exclusão social. Ao filmar em Salvador e no Rio de Janeiro, obrigou o mundo a enxergar o que muitos preferiam esconder atrás de filtros e carnavais. Era arte que incomodava porque apontava feridas reais.

Nada de modismo, sempre ruptura

Muitos podem, com o tempo, quebrar seus recordes. Mas nenhum conseguirá fundar uma linguagem. Jackson não seguia tendências: ele as criava. Do moonwalk à estética dos clipes, da coreografia ao uso do corpo como signo político, ele não era um espelho da época. Era seu catalisador.

Se houve um presidente negro nos EUA, é porque antes houve um Michael Jackson abrindo mentes, confundindo as categorias de gênero, cor, identidade. Ele foi um desconforto cultural antes de qualquer coisa.

Eternidade por relevância

Michael Jackson não é eterno por nostalgia. É eterno por impacto. Transformou música em espetáculo total, expôs feridas sociais e redefiniu o que entendemos por arte pop. Como disse Madonna: “Reis nunca perdem a majestade. Vida longa ao Rei!”

Hoje, no seu aniversário, não lembramos apenas do artista. Lembramos do enigma. Da figura que, como os grandes mitos, não cabe inteira em nenhuma narrativa. Michael Jackson ainda nos escapa. E talvez seja essa a sua maior obra.

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Michael Jackson durante performance de ‘Heal The World’ na ‘HIStory World Tour’