A chegada de um fenômeno
Em setembro de 1974, o Brasil recebeu pela primeira vez um dos maiores grupos pop do planeta. O Jackson 5 desembarcou em São Paulo no dia 12, cercado de expectativa e curiosidade. Jackie, Tito, Jermaine, Marlon, Michael e o caçula Randy traziam na bagagem sucessos como “I’ll Be There”, “Never Can Say Goodbye” e “Ben”.
Para a juventude brasileira, era uma novidade sem precedentes. O país vivia uma época em que shows internacionais eram raros. De repente, aqueles garotos de cabelos black power e coreografias ensaiadas estavam aqui, prontos para transformar o cenário musical local.

O percurso da turnê no Brasil
- 13/09 – São Paulo – Palácio das Convenções do Anhembi
- 14/09 – São Paulo – Pavilhão de Exposições do Anhembi (matinê)
- 17/09 – Porto Alegre – Ginásio Gigantinho
- 18/09 – Belo Horizonte – Estádio Independência
- 19 e 20/09 – Rio de Janeiro – Ginásio do Maracanãzinho
- 22/09 – Brasília – Ginásio Nilson Nelson
Cada cidade recebeu os irmãos Jackson com entusiasmo. A imprensa anunciava os shows como o maior espetáculo do ano. Em muitas capitais, adolescentes vibravam incrédulos ao ver pela primeira vez um espetáculo pop de padrão internacional.
Michael em destaque
Com apenas 16 anos, Michael já era a estrela. Sua voz em transformação não reduziu o impacto. Pelo contrário, mostrava maturidade em evolução. Em São Paulo, chegou a improvisar com um pandeiro quando houve falha técnica no palco – atitude que arrancou elogios da crítica local.

Uma das passagens mais lembradas da turnê, registrada pela Folha de S.Paulo:
“A certa altura da apresentação, diante de problemas de som, todos os integrantes do grupo pararam de tocar. Michael Jackson, impassível, salvou a situação tocando um pandeiro e dançando para desfazer a tensão do grupo.”
(Folha de S.Paulo, 1974 – reportagem de Hélio Guimarães)
A marca na TV
Durante a estadia em São Paulo, o grupo gravou um especial na TV Tupi, provavelmente entre 13 e 14 de setembro. O programa exibiu faixas como “Never Can Say Goodbye” e “Ben”. O incêndio que atingiu a emissora em 1978 destruiu quase todo o material, mas 1 minuto e 40 segundos resistiram e estão na Cinemateca Brasileira. Essas imagens foram exibidas pelo Fantástico em 2009.
A chegada ao Rio e a coletiva
No dia 16 de setembro, o grupo desembarcou no Aeroporto do Galeão. A comitiva somava mais de 30 pessoas, incluindo tias e até babá. Por coincidência, cruzaram com Roberto Carlos, que passou despercebido.
No dia seguinte, deram uma coletiva no Hotel Nacional, em São Conrado. Usando roupas coloridas e black power, falaram sobre música e estilo. Michael comentou: “Não existe outro conjunto com nosso estilo. Somos o primeiro grupo jovem que surgiu cantando”. Randy disse ter gostado das roupas coloridas dos cariocas, Jermaine ficou impressionado com a quantidade de Volkswagens e Michael, com ironia adolescente, disse que esperava encontrar “esmeraldas nas ruas”.
Shows no Rio
Os dois shows no Maracanãzinho (19 e 20/09) tiveram abertura da escola de samba Portela. Esse encontro entre o soul americano e o samba carioca deu o tom da noite. O público vibrou com os sucessos e saiu com a sensação de ter presenciado algo histórico.
As performances de “ABC” e “I’ll Be There” levantaram o Maracanãzinho. Pela primeira vez, o Brasil viu de perto o magnetismo que mais tarde faria dele o Rei do Pop.

Bastidores e percalços
Nem tudo correu perfeitamente.
- O show marcado para 21/09 em Brasília precisou ser cancelado devido a atrasos no transporte de equipamentos, sendo remarcado para o dia seguinte.
- Em alguns locais, houve atrasos na programação e dificuldades técnicas, mas nada que tirasse o brilho das apresentações.
- A comitiva chamou atenção: mais de 20 pessoas entre equipe técnica, seguranças e familiares acompanhavam os irmãos.
Curiosidades
- Roberto Carlos, já ícone no Brasil, passou despercebido ao cruzar com os Jackson no Galeão.
- O empresário George Ellis investiu cerca de Cr$ 800.000 para trazer o grupo – o equivalente a cerca de US$ 800 mil atuais.
- A revista Hit Pop estampou: “Nós sacudiremos o Brasil. Vocês vão nos adorar mais do que imaginam”.
- O encontro com a Portela no Rio virou símbolo da fusão cultural daquele momento.




