Planet Michael: quando o Metaverso sonhou com Michael Jackson e acordou no Século Errado | MJ Beats
Logotipo conceitual do Planet Michael, o jogo que nunca foi lançado.

Planet Michael: quando o Metaverso sonhou com Michael Jackson e acordou no Século Errado

Em 2010, o espólio de Michael Jackson anunciou o Planet Michael, um mundo virtual temático onde fãs poderiam dançar, doar e conviver no espírito do Rei do Pop. A proposta era clara: um metaverso não-violento, guiado por arte, música e solidariedade.

A ideia parecia ter como fim o florescimento humano. Uma cidade digital onde não se guerreia, mas se dança. Um espaço onde a ética substitui a espada. Se isso soa utópico, é porque era — e essa utopia útil apontava um norte.

jordan-halsey-planet-michael-jackson-crytek-entropia-10-1024x576 Planet Michael: quando o Metaverso sonhou com Michael Jackson e acordou no Século Errado
Arte conceitual “Planet Michael”

Contexto em 30s – Anunciado em 21/09/2010, o Planet Michael foi licenciado pelo espólio e produzido pela SEE Virtual Worlds sobre a plataforma Entropia Universe. Em 06/2011, a MindArk encerrou a cooperação com a SEE. Não houve beta, nem lançamento, e o site saiu do ar.

O ideal vs a plataforma

Mas havia um paradoxo. Enquanto a estética do projeto pregava união e filantropia, sua base tecnológica era conhecida por uma economia in-game agressiva. A progressão exigia gastos recorrentes. Um espaço sobre dar foi sustentado por uma lógica comercial dura. É difícil sustentar um ideal de generosidade sobre um alicerce que cobra para cada passo.

Tudo ali parecia em guerra consigo mesmo. O nome evocava pureza na infância, cura no amor, redenção na arte. Por trás das cortinas, porém, forma e conteúdo não se tocavam. A promessa de leveza trombava com a forma vs conteúdo de um mercado que pede conversão e retenção.

Chegou cedo demais

O projeto também chegou antes do tempo. Tentou ser Fortnite antes de Fortnite, Roblox sem Roblox. Lançado quando a internet sonhava com avatares, mas ainda não com experiências realmente significativas, não encontrou tecnologia madura nem um público pronto. Era ideia demais para um público que ainda não sabia lidar com as sombras do digital.

A lição

Seu fracasso, no entanto, é precioso. Ensina que boas intenções não sobrevivem sem sistemas importam. Que legado não se sustenta só no afeto. Criar um mundo — mesmo digital — pede prudência, senso de realidade e uma dose de humildade diante das promessas da inovação.

Mas não sejamos cínicos. Em um cenário dominado por tiros, zumbis e loot boxes, alguém tentou fazer um jogo sobre compaixão e caridade. Mesmo que só tenha existido no papel, isso ainda diz muito. Talvez até diga tudo.

A pergunta final é simples e difícil ao mesmo tempo: em um mundo que não se constrói sem conflitos, o que fazemos com os sonhos pacíficos que fracassam? Se você souber dançar sobre os escombros, Michael provavelmente aprovaria. Eis a pergunta final que fica.