Uma megahisteria tomou conta do Morumbi, ontem, às 21h34, quando Michael Jackson finalmente deu início ao megashow mais esperado do ano no Brasil. Até que ele aparecesse no palco e começasse a cantar ainda se passasse quase dez minutos, período em que a platéia estimada entre 70 mil e 80 mil pessoas chegou ao delírio, como num jogo de futebol, gritando “Maicô”, “Maicô”.
Exatamente às 23h30, 115 minutos após essa apoteose — e aos gritos de “I love you”, “I love you” -, Michael Jackson abandonava o megapalco armado no estádio, deixando a platéia entre perplexa e frustrada. Em Buenos Aires, há uma semana, o cantor se exibiu durante duas horas e vinte minutos e cantou um bis (Man In The Mirror).
A parafernália de efeitos — explosões de fogos, cascatas de luzes, fumaça colorida etc. e tal — precede a voz de Jackson em cada música e serve como senha para a histeria da platéia alcançar níveis beatlemaníacos. Antes de cantar pela primeira vez, Jackson chega a ficar três minutos estático no centro do palco, provocando delírio e desmaios entre o público.
Ao começar a cantar Jam — a música que abre Dangerous — o impacto causado pelo volume de som acaba escondendo a voz de Jackson. Entre a terceira e a quarta música (Human Nature e Smooth Criminal), a platéia colocada na arquibancada, a mais distante do palco, chega a ensaiar um corinho de “aumenta o som!” Esse problema acompanhou todo o show.
Por alguns segundos, às 21h48, Jackson se dirige à platéia, perguntando em inglês “Como vão vocês?” Evidentemente a resposta foi apenas um grunhido de milhares de vozes.
Às 21h30, quatro minutos antes do início do show, o capitão da Polícia Militar Flavio Jari Depieri estimava o público no Morumbi em cerca de 70 mil pessoas (86 mil ingressos foram colocados à venda). No meio da música I Just Can’t Stop Loving You, como previsto, Michael puxa uma menina da platéia, ela balbucia um “I love you” e se agarra firme no astro. Ao fim da canção, Jackson se ajoelha e demonstra estar chorando. Diz: “I love you”. Foi lindo.
Cerca de 50 pessoas desmaiaram entre a primeira e a terceira música do show, somando-se às cerca de 250 pessoas que desmaiaram antes do início. A maioria dos atendidos pelo Unicor apresentavam os mesmos sintomas: falta de ar, fraqueza e crise de choro. Todos tomaram água com açúcar e voltaram para o meio do gramado. Para chorar com Michael Jackson.
Maurício Stycer, Folha de São Paulo, em 16 de outubro de 1993




