O escritório de John Branca, em Los Angeles, mais parece um museu da era dourada da música pop. Nas paredes, prêmios, manchetes e fotografias ao lado de Michael Jackson. É ali, entre memórias e contratos, que o advogado — e coexecutor do espólio do cantor — fala sobre o que chama de “o projeto mais importante desde Thriller”: a cinebiografia “Michael”.
Em entrevista ao Financial Times, Branca contou que o filme passou por refilmagens e disputas internas, após o estúdio Universal cogitar desistir da distribuição internacional. Diante do impasse, o espólio decidiu financiar sozinho a nova fase da produção. “O objetivo é simples: Michael merece contar sua própria história”, disse ele. Segundo Branca, o longa tem um tom “inspirador” e aborda principalmente a infância e os primeiros passos do artista, deixando temas mais delicados para um segundo capítulo.
O roteiro foi supervisionado de perto pelo espólio e, segundo Branca, busca mostrar o lado humano de um ícone que foi, ao mesmo tempo, venerado e vilanizado. “Este não é um filme de defesa. É sobre a verdade. Michael foi um visionário e também um homem que pagou um preço alto por ser quem era”, afirmou. Para ele, o público merece ver o artista “além das manchetes”.
Durante a conversa, Branca fez questão de abordar as acusações que marcaram a carreira do cantor, negando veementemente qualquer culpa. “Essas histórias sempre foram tentativas de extorsão. Michael foi alvo de injustiças e de uma cobertura midiática implacável”, declarou. Em seu tom firme, há mais do que lealdade jurídica — há uma convicção pessoal de que o artista foi vítima de um julgamento desigual.
Em outro momento da entrevista, o advogado citou uma das observações mais amargas de Jackson sobre o racismo na forma como era tratado. “Eles chamam Sinatra de Presidente do Conselho. Elvis é o Rei. Springsteen é o Chefe. E Michael? O Luva Branca”, relatou Branca. “Michael me dizia: ‘Você sabe que isso é racial’. E ele tinha razão.” A frase resume, segundo ele, um padrão de desrespeito que ainda hoje paira sobre o legado do cantor.
Branca também comentou sobre a postura do espólio nas inúmeras disputas legais desde 2009. “Nunca perdemos um processo”, destacou. “Você não tem ideia do que enfrentamos, mas seguimos firmes. Nossa regra é clara: não perdemos, não fazemos acordos e não deixamos ninguém nos intimidar.” Ele afirma que essa estratégia foi fundamental para proteger a marca e a imagem de Jackson, que seguem gerando bilhões de dólares em receitas.
Para Branca, a cinebiografia “Michael” é mais do que uma produção de Hollywood. É uma tentativa de reconstruir a narrativa de um dos artistas mais influentes e incompreendidos do século XX. “Michael mudou a cultura, a música e a forma como o mundo via um artista negro. O filme é uma homenagem a isso — e também um acerto de contas com o passado”, concluiu.
por Financial Times




