TV Guide: O Michael "tenso" e a Pantera faminta nos bastidores de "Black or White" | MJ Beats
Michael Jackson é capa da TV Guide - Novembro de 1991

TV Guide: O Michael “tenso” e a Pantera faminta nos bastidores de “Black or White”

Vamos ligar nossa máquina do tempo. O destino?
A primeira semana de novembro de 1991.

Resumo para situar o leitor Beats: novembro de 1991 é mês de sweeps na TV americana (medição pesada de audiência). A indústria tira do cofre seus trunfos — e Michael Jackson é o “Ás de Ouros”. A TV Guide abre passagem para um “tour mágico” pelo novo clipe Black or White (estreia em 14/11) e mostra por que a televisão inteira gira ao redor dele.

O cenário da TV: de pacotes nostálgicos (uma retrospectiva de M*A*S*H*) a festa de 10 anos da MTV, passando por telefilmes estrelados e o falatório de Barbara Walters — é a temporada em que as redes ligam o turbo. O recado da revista é direto: “os detalhes suculentos estão na página 7”; antes, vem com a gente ver Michael de perto.


É um mês de Michaelmania!

Qualquer mês em que sai um vídeo de Michael Jackson já precisa ser considerado especial. Mas a estreia na TV do mais recente trabalho de Jackson, “Black or White”, em 14 de novembro, cai bem no meio de um dos períodos de horário nobre mais bons — e mais agitados — da memória recente. Vem aí de tudo: pacotes de nostalgia (como uma retrospectiva de M*A*S*H*), galas de aniversário (os 10 anos da MTV), telefilmes estrelados e o burburinho de celebridades (Barbara Walters, claro). O motivo: novembro é mês de sweeps — um dos quatro períodos cruciais de medição de audiência — e, para o público, isso significa programação de primeira. Os detalhes suculentos estão na página 7. Mas antes, venha por aqui para o passeio mágico do novo vídeo de Michael…

Um Primeiro Olhar no Megavídeo “Black or White”

2025-11-03_18-34-41_TV-Guide-Nov-1991-4K_1067x1600-683x1024 TV Guide: O Michael "tenso" e a Pantera faminta nos bastidores de "Black or White"

É noite numa das áreas mais degradadas de Los Angeles. Uma limusine cruza uma rua lateral escura e entra num estacionamento abandonado. Assim que o carro para, meia dúzia de seguranças surge do nada. Eles correm até o veículo, gritando instruções uns aos outros, enquanto um jovem pálido, com ar um tanto desajeitado, desce. O homem: Michael Jackson. O “perigo”: dois sem-teto atordoados do outro lado da rua que nem notaram que ele chegou.

Este é o mundo de Michael Jackson — um mundo ao qual ele deu à TV Guide acesso exclusivo para um evento muito importante: as filmagens do seu novo vídeo, “Black or White”. Com um acordo de US$ 1 bilhão com a Sony e a reputação de artista nº 1 em jogo, o superstar tem muito em risco com “Black or White” e com o álbum de onde ele vem, “Dangerous”.

Sua preocupação é evidente: do diretor de cinema de primeira linha de Hollywood aos efeitos especiais de ponta, dos animais exóticos ao elenco multinacional de dançarinos — tudo em nome de 11 minutos de filme.

Mas, por ora, ele prefere não falar do projeto. Envolto em uma capa, mantém-se nas sombras, como se tivesse medo de ser abordado. A maioria dos técnicos nem percebe sua presença. Ao vivo, não há nada de carismático nele. Na verdade, ele parece tenso.

“Infelizmente acho que existe uma pressão — e ela é colocada por todo mundo”

— confirma o diretor John Landis. (Ele assina Animal House, Trocando as Bolas e Twilight Zone: The Movie.)

Um episódio de gripe já tirou de Jackson vários dias de trabalho, e Landis precisa voar para Roma em 48 horas. Se a filmagem não terminar até lá, não haverá tempo para concluir os efeitos especiais.

Como se não bastasse, a próxima cena exige uma coestrela temperamental. Uma pantera negra elegante é trazida ao set — e isso é só o começo. Para que a pantera “atue”, ela precisa estar com fome. E, quando uma pantera está com fome, qualquer coisa pode acontecer.

— “Liberem o set!”, grita um assistente de direção.

Jackson, fascinado pelo animal, é levado a contragosto para o trailer, enquanto Landis e a equipe observam por um monitor.

A pantera avança na direção da câmera, rosna e depois se esgueira para fora do quadro. Por um segundo, ela encara um jovem operador de câmera ali perto. Pausa e sibila. No último instante, se afasta. Milagrosamente, faz exatamente o que mandaram. Um suspiro coletivo toma a equipe.

Mais tarde, por meio de uma técnica sofisticada de computação gráfica chamada morphing (semelhante à usada em “O Exterminador do Futuro 2”), Jackson vai se transformar na pantera — um efeito especial que pode custar até US$ 10 mil por segundo.

Landis não consegue explicar como a pantera vai aparecer no vídeo final, que traz Macaulay Culkin numa fantasia de vingança, despachando o pai ranzinza, George Wendt, para diferentes partes do mundo. O próprio Macaulay é revelado como uma fantasia de Bart Simpson. Como tudo isso ilustra o suposto tema de igualdade racial do vídeo, só Deus sabe. Landis dá de ombros a qualquer interpretação:

“Vai haver muita improvisação.”

Depois de incontáveis tomadas, o trabalho com a pantera termina. É 1 da manhã. Os sem-teto desapareceram, assim como os vagabundos e dependentes que frequentam essas ruas escuras. A equipe está exausta. Landis se abraça para espantar a gripe que, brinca, teria pegado de seu astro. A pantera é levada de volta à jaula. Ela de repente parece cansada, quase dócil.

E Jackson também.

Ele sai do trailer, olhos marejados. É difícil acreditar que esse homem explode em energia toda vez que sobe ao palco. Landis o conduz até o ponto em que ele deve se mover como a pantera. E, por alguns breves takes, Jackson ganha vida: arqueia-se como um felino, rasteja para a frente, desenrolando-se como se fosse decolar.

Acabou. A energia se vai, e o homem quase invisível está de volta. Jackson desaparece no trailer, trancando a porta atrás de si.


Onde está Michael? Ele vai “moonwalkar” por toda a TV

Veremos mais de Michael Jackson neste mês do que em qualquer outro desde que “Bad” foi lançado em agosto de 1987.

Em 14 de novembro, seu novo vídeo, “Black or White”, terá estreia simultânea na Fox, MTV e BET. Na prática, a Fox ajustará toda a grade do horário nobre naquela noite: espectadores atentos podem notar programas favoritos um pouco mais curtos para acomodar o vídeo de 11 minutos. Mas os fãs ferrenhos de Os Simpsons não precisam se preocupar — Jackson ama o desenho a ponto de usar o Bart como personagem em “Black or White”.

No domingo seguinte, vai ao ar na Fox um especial de 30 minutos em horário nobre sobre Michael Jackson, incluindo reprise do vídeo. Depois, o superstar aparece num especial gravado de 10 anos da MTV, programado para 27 de novembro na ABC, quando, segundo uma porta-voz, ele pode apresentar “Black or White” e outra música do novo álbum, “Dangerous”.

Enquanto isso, os representantes de Jackson articulam um acordo para lançar o vídeo mundialmente no mesmo dia da exibição nos EUA.

É difícil acreditar que este seja o homem que um dia declarou:

“Acredito que sou uma das pessoas mais solitárias do mundo.”


A Análise Beats

O que torna este artigo da TV Guide tão fascinante é o instantâneo cru da “calma antes da tempestade”. O jornalista não foi ver o “Rei do Pop” ensaiado; ele testemunhou o artesão sob a pressão de um contrato bilionário e prazos impossíveis.

A descrição de Jackson como “tenso”, “sem carisma” e “quase invisível” é um dos relatos mais honestos que temos dele nesse período, contrastando brutalmente com o “felino” que explodia para as câmeras segundos depois.

É a dualidade clássica de Michael Jackson: o homem quieto e o artista explosivo, capturada perfeitamente antes da “Michaelmania” da era Dangerous tomar conta do planeta.