No dia 04 de dezembro de 1995, há exatos trinta anos, o Beacon Theatre, em Nova York, foi palco de um dos encontros mais raros da música e da arte. Ali, longe do público, dois mestres se preparavam para criar algo que ia além do entretenimento: buscavam tocar a alma. Era Michael Jackson, no auge de sua sensibilidade artística, e Marcel Marceau, o mímico mais famoso do planeta.
Nesta data, Michael permitiu que a imprensa assistisse aos ensaios de seu especial da HBO, “One Night Only”, um projeto ambicioso que prometia elevar sua obra a um novo nível. Mesmo entre câmeras e fotógrafos, havia um clima de reverência: não era todo dia que se presenciava o Rei do Pop abrindo seu processo criativo.
Ao lado dele estava Marceau, ícone francês e lenda do silêncio. Para muitos, era improvável imaginar MJ e um mímico no mesmo palco, para os dois, era natural. Marceau sempre dizia que Michael tinha “a alma de um mímico”, alguém capaz de expressar uma vida inteira apenas com o movimento de uma mão. E Michael, por sua vez, carregava nele traços de Marceau desde os primeiros passos do Moonwalk, inspirado na leveza e precisão do artista europeu.
Os dois ensaiavam uma performance especial para “Childhood”, a canção mais autobiográfica de Michael. A ideia era poderosa: enquanto MJ cantaria suas memórias, dores e inocências, Marceau traduziria esses sentimentos com sua famosa rotina da “caixa de vidro”. Uma coreografia silenciosa que parecia feita sob medida para a vulnerabilidade daquela letra.
Apenas dois dias depois, Michael sofreria um colapso no palco por exaustão, obrigando o cancelamento do especial. A performance final nunca chegou a existir para o público.
O que restou daquele 04 de dezembro não foi um espetáculo completo, mas um registro poderoso da ambição artística de Michael Jackson: a vontade de transformar a música pop em alta arte, misturando voz, silêncio, dor e beleza. Uma fusão que só dois gênios como ele e Marceau poderiam imaginar e mesmo que o mundo nunca tenha visto o resultado final, o ensaio permanece como um tesouro da história cultural.
Ensaios:
O ensaio completo de Childhood mais tarde foi compartilhado pelo coreógrafo e dançarino Lavelle Smith Jr., que trabalhou ao lado de Michael por décadas. Ao divulgar as imagens, ele explicou que esses ensaios aconteceram dois dias depois do colapso de Michael Jackson no Beacon Theatre. Segundo Lavelle, embora a produção ainda acreditasse que Michael conseguiria realizar o especial da HBO, a realidade era outra: ele estava fraco, com pressão muito baixa e sofrendo de desidratação, e simplesmente não tinha condições físicas de seguir.
Lavelle comentou que algumas pessoas que assistiram ao material completo não reagiram bem, especialmente aos trechos de “Thriller” e “BAD”, já que era evidente que Michael não estava em seu estado normal de performance. Mesmo assim, ele decidiu disponibilizar alguns momentos desses ensaios — incluindo trechos de “Dangerous”, número que Michael preferiu manter exatamente como havia sido apresentado no VMA.




