A fotografia que circula nos sites de fofoca como se fosse uma revelação inédita dos chamados “arquivos Epstein”:
Nela aparecem Michael Jackson, Diana Ross e Bill Clinton em um contexto público, antigo e amplamente documentado. O detalhe que incendiou a narrativa foi a presença de uma tarja preta sobre um dos rostos — imediatamente interpretada por parte da imprensa e das redes como sinal de uma “mulher não identificada” e, por extensão, de uma possível vítima.

Esse salto lógico diz tudo sobre o jornalismo que temos. A tarja, que é um protocolo administrativo padrão para proteção de identidade (especialmente de menores à época da foto), foi tratada como evidência moral. Onde faltou contexto, sobrou imaginação. Onde faltou apuração, entrou o roteiro pronto do escândalo. Não se investigou quem era a pessoa; preferiu-se insinuar o que ela poderia ser — porque isso gera cliques.
“That’s me, not unidentified women”

A correção veio de quem nunca deveria ter precisado corrigi-la. Evan Ross, filho de Diana Ross, comentou diretamente a publicação: “That’s me, not unidentified women.” (“Sou eu, não uma mulher não identificada.”) Em uma frase curta, ele desmontou toda a fantasia construída em torno da imagem. Não havia vítima oculta, não havia mulher misteriosa, não havia crime insinuado pela tarja — havia um adolescente acompanhando a mãe em um evento público.

Quando a verdade precisa ser reposta pelo próprio retratado, algo já falhou gravemente. Este episódio não revela nada de novo sobre Michael Jackson ou sobre a foto; revela, isso sim, uma imprensa que age como amadora cínica, trocando critério por engajamento. A tarja virou enredo, o erro virou manchete, e a correção — como sempre — ficou pequena. Talvez a lição seja simples demais para quem prefere o atalho: tarja não é prova; é protocolo. O resto é imaginação vendida como notícia.





