‘‘Se Bad não fosse visto como o sucessor do impossivelmente bem-sucedido Thriller, seria recebido como a obra-prima de pop negro que realmente é.’’
‘‘Durante cinco anos, o mundo prendeu a respiração à espera de uma revelação — algo que indicasse um mínimo que fosse sobre os caminhos que o “megastar” supremo tomaria após o disco mais comprado de toda a história da indústria fonográfica. Tanto guardou o ar que quase feneceu de falta de fôlego e tédio. Quando o “megastar”, enfim, saiu do casulo auto-imposto, para anunciar o sucessor do milionário Thriller, ninguém mais sabia o que esperar de Michael Jackson — se é que ainda esperava.
O que Michael Jackson fez para lançar Bad foi bastante semelhante ao que fizera para arremessar Thriller, em 1982. Ele escolheu a pior faixa para iniciar a carreira do álbum, a chatíssima The Girl Is Mine, um dueto sem graça e inócuo com Paul McCartney. Para apresentar Bad ao mundo, Michael escolheu, mais uma vez, a pior faixa do disco, no caso, mais um dueto, I Just Can’t Stop Loving You, com a estreante Siedah Garrett. Logicamente todo mundo caiu de pau o máximo que pôde. Não perdíamos por esperar…
Bad, lançado segunda-feira nos Estados Unidos, traz Jackson no melhor de sua forma. Na “baladagem” — descontada e irremedivalmente tola I Just Can’t Stop Loving You -, Michael reclama sua supremacia, assinando a doce Liberian Girl. Mas o mais importante de Bad é que, nele, Michael Jackson deixou para trás a adolescência eterna para assumir-se maduro. Quando ele lança a bravata inicial de Bad, algo como “quem manda aqui sou eu”, Michael não está apenas desafiando seu antagonista na música: está impondo seu “come back” com a atitude de um campeão convicto.
Se Bad não fosse visto como o sucessor do impossivelmente bem-sucedido Thriller, seria recebido como a obra-prima de pop negro que realmente é. E qualquer suspeita de encasulamento de Michael — o que o tornaria incólume a influências externas, vindas do mundo real — provam-se infundadas no disco. Michael ouviu tudo, se abasteceu de novos ares e retornou refrescado e pronto para tudo.’’
José Emílio Rondeau
Folha de S. Paulo, 02 de setembro de 1987