‘‘Quando viu o popstar, Márcio de Paula chorou convulsivamente. Estava em companhia dos pais e irmãos. Michael abraçou o garoto’’
Michael Jackson visitou ontem à tarde o jovem Márcio Alberto de Paula, 15, no hospital Anchieta (Vila Mariana, zona sul de São Paulo). Quinta-feira à noite, a comitiva do popstar atropelou o rapaz, que fraturou o fêmur direito e teve que sofrer uma cirurgia. A ‘Folha’ acompanhou toda a visita, que durou cinco minutos.
O cantor deixou o hotel Sheraton Mofarrej às 14h45, uma hora e meia depois de acordar. Seguiu para o hospital num furgão cinza, com três amigos — garotos entre 14 e 10 anos, filhos do casal Barnes, que vivem em Los Angeles e acompanham a turnê brasileira de Michael.
A comitiva do popstar incluía outro furgão, azul, com cinco seguranças, e uma Mercedes 500 SE, preta, que levava a reportagem da ‘Folha’ e o empresário Bob Jones, vice-presidente da MJJ Productions. Duas veraneios da Polícia Militar, tocando as sirenes, escoltavam o comboio.
A comitiva partiu do hotel, na alameda Santos (zona sul), e pegou a avenida Paulista, onde ultrapassou todos os faróis vermelhos. Entrou na rua Domingos de Moraes e seguiu pela rua Borges Lagoa. Um Escort prata, chapa CCA-1515, com uma jovem loira na direção, acompanhou o comboio durante quase todo o trajeto. Era uma fã enlouquecida, que pisava fundo no acelerador. Dentro da Mercedes, cujo velocímetro oscilava entre 60 e 80 km/h, Bob Jones, irritado, murmurava: “I can’t believe!” (Eu não posso acreditar). Nas calçadas, algumas pessoas acenavam e gritavam o nome de Michael Jackson. O paulistano Omar Trivolin, 28, motorista da Mercedes, comentou: “Que adrenalina! Se a gente descuida, não consegue segurar o carro no freio.”
Depois de passar pela rua Borges Lagoa, o furgão do popstar desceu a rua Pedro de Toledo na contramão e entrou no estacionamento do hospital. Eram 14h55. Michael desceu do carro. Usava calça, chapelão, sapatos mocassim e óculos pretos, meias amarelas e camisa cor de rosa, com galões militares douradas. Um dos meninos que o acompanhavam vestia-se do mesmo jeito. Outro garoto trajava roupa militar verde e uma boina estilo Che Guevera. O terceiro menino usava camisa xadrez.
Sempre de cabeça baixa, Jackson subiu dois lances de escada com passos largos e entrou no quarto 123, onde está Márcio de Paula. O cantor parece mesmo sofrer de vitiligo, doença que embranquece a pele. Tem a face e as mãos róseas, como os albinos. Nas costas da mão direita, há manchas pardas. O nariz exibe pequenos sulcos.
Quando viu o popstar, Márcio de Paula chorou convulsivamente. Estava em companhia dos pais e irmãos. Michael abraçou o garoto e lhe acariciou o rosto. Com auxílio de uma intérprete, pediu desculpas pelo atropelamento, disse que não tinha a intenção de machucar ninguém e rezou, desejando a rápida recuperação do rapaz. O paciente não falou nada.
Jackson deixou o quarto e entrou na sala 140, onde examinou três radiografias da perna direita de Márcio. Depois, distribuiu autógrafos para dois médicos. “Ele é muito legal. Está desculpado”, afirmou João Alberto de Paula, pai do garoto.
O cantor saiu do hospital às 15h. Pacientes, médicos e enfermeiras o seguiram até a porta, sem tumulto. A comitiva de Michael rumou, então, para a locadora de vídeo “Black & White”, na alameda Sarutaiá (Jardins, zona sul de São Paulo), onde ficou 25 minutos. O cantor comprou cerca de 30 fitas, entre as quais “Je Vous Salue Marie”, “Perfume de Mulher” e desenhos de Walt Disney. Em seguida, retornou para o hotel.
Armando Antenore e Cláudio Julio Tognolli
Folha de São Paulo, outubro de 1993