Antes de entrar nos temas desta coluna, o leitor precisa saber de que tradição crítica ela nasce. A ‘MJ Beats’ foi fundada com uma atenção que sempre ultrapassou o simples noticiário. Aqui, o interesse nunca foi apenas acompanhar lançamentos, contar bastidores ou repetir consensos: foi pensar Michael Jackson, suas eras, seus fracassos, suas disputas e seus silêncios.
Essa forma de leitura tem raízes claras. Ela combina a paixão pela cultura pop com o rigor da filosofia — essa disciplina que ensina a observar aquilo que outros deixam passar, a desmontar narrativas, a reconhecer vieses, a tratar cada fragmento como parte de um mosaico maior. É uma abordagem que pode, sem pudor, misturar futebol clássico, motores V10 e metafísica, desde que o objetivo final seja esclarecer o que realmente importa.
Nesse espírito, a coluna “Amém!”, publicada na Edcyhis — primórdios da MJ Beats — tornou-se referência. Ali, a análise confrontava expectativas, criticava ilusões geracionais e examinava detalhes que o discurso público ignorava. “Amém!” mostrou que era possível unir erudição, ironia, coragem interpretativa e precisão factual.
“Ponto Cego” é herdeira direta dessa tradição.
Não como repetição, mas como homenagem.
Aqui, buscamos o que não está no centro do palco: projetos cancelados, tensões internas, contradições de época, leituras apressadas, omissões estratégicas e ruídos que se acumulam ao redor do legado de Michael Jackson. O foco não é recontar fatos, mas interpretar o que ficou fora de foco.
Acreditamos que compreender o legado exige mais do que memória: exige método.
E o método desta coluna é simples:
ver onde quase ninguém está olhando —
e iluminar o que a história deixou na sombra.