Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Maio de 2002);
Republicação adaptada pela MJ Beats.
“Weapon of Choice”, de Fatboy Slim, foi eleito o melhor videoclipe musical da história em uma enquete realizada entre profissionais do setor.
Thriller, nessa mesma pesquisa, ficou em sexto lugar.
Segundo Cristine Boar, vice-presidente de programação do canal musical VH1, a escolha comprova que “os videoclipes finalmente evoluíram em relação a Thriller”.
Ainda de acordo com ela: “Thriller foi um avanço para sua época, mas hoje o setor valoriza mais a inventividade do que grandes orçamentos.”
Sem dúvida, “Weapon of Choice” é muito mais do que um clipe mediano. Sua criatividade se destaca em um cenário saturado por videoclipes produzidos em série. Por isso mesmo, uma coluna dedicada a Michael Jackson não poderia deixar de reconhecer seu mérito.
Mas será que já é o caso de colocar um clipe de Fatboy Slim no lugar que sempre pertenceu a Michael — ou seja, no topo?
A injustiça começa quando se sugere que os videoclipes de Michael só brilham por conta do orçamento.
E pior: quando se reduz tudo a Thriller, como se essa fosse sua única obra digna de honrarias.
É verdade que os clipes da era Invincible mereceriam ser apagados da videografia do Rei do Pop[*].
Mas não precisamos ir tão longe para encontrar a genialidade do seu legado visual.
Basta olhar para a era HIStory. Alguns exemplos:
1) “Scream”
Os efeitos visuais sempre foram um dos pontos fortes de Michael.
E foi incrível ver que, mesmo após “Black or White”, ele ainda conseguia nos surpreender.
2) “They Don’t Care About Us” (versão brasileira)
É curioso imaginar como foi percebido por quem não conhece a música, o cenário ou o povo brasileiro.
Ver Michael tão integrado a um contexto tão distante de sua origem foi emocionante.
Ele revelou um lado espontâneo — quase brasileiro.
Se há um desencontro entre a letra da música, que é um protesto, e o clima festivo do clipe, isso talvez diga muito sobre a própria “brasilidade” do vídeo: aqui, a festa resiste mesmo diante da miséria e da injustiça social.
3) “Stranger in Moscow”
Aqui, a tecnologia foi empregada de forma sutil, a serviço da arte — e não para mero exibicionismo.
Um perfeito equilíbrio entre técnica e sensibilidade.
4) “You Are Not Alone”
O sempre reservado Michael surpreendeu ao usar a nudez e a intimidade como expressão artística — e o fez com extremo bom gosto.
Em resumo, não é difícil perceber:
Se Fatboy Slim merece reconhecimento por não se limitar a imitar Michael — como fazem tantos “artistas” atuais —, Michael Jackson, por sua vez, tem o mérito ainda maior de nunca ter se limitado a imitar Thriller, apesar de tantos tentarem rotulá-lo como o criador de “um único vídeo marcante”.
[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.