Aaron e Nick Carter com Mike Tyson no Rancho Neverland - 2003-09-13

A Realidade da Realeza

Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Outubro de 2003);
Republicação adaptada pela MJ Beats.


Recentemente, Michael Jackson abriu sua casa, a paradisíaca Neverland, para um evento beneficente.

Segundo relatos de fãs presentes, o ingresso de US$ 5.000,00 não serviu apenas para financiar diversão aos participantes e gerar arrecadação para caridade.

Uma boa parte do valor, possivelmente, precisou ser usada em reparos na propriedade — devido ao vandalismo causado por alguns dos próprios convidados.

Ainda de acordo com relatos indignados, não foi apenas o patrimônio de Michael que sofreu desrespeito: sua própria pessoa também foi alvo de piadas e comentários maldosos durante o evento.

Embora houvesse diversas atrações, muitos preferiram gastar o tempo com esse tipo de comportamento.

Michael, por sua vez, optou por não se misturar aos convidados como faria qualquer anfitrião.

Sua participação se limitou a uma breve aparição de poucos minutos.


Esse episódio parece retratar perfeitamente o que se tornou a vida de Michael — ou, quem sabe, o que fizeram dela.

Nesse caso, a ordem dos fatores não altera o resultado.

Michael virou objeto de piada e já não consegue se socializar nem mesmo em sua própria casa.

Dois elementos explicam essa situação:

  1. A sensação de estranheza que ele desperta nas pessoas.
  2. O muro simbólico que o separa do resto do mundo.

Enquanto esse muro existir, as pessoas continuarão a debochar — porque não compreendem.

Enquanto esse muro existir, Michael não poderá caminhar entre os outros como qualquer outra celebridade da festa.


Mas então, para reconstruir sua imagem, deveria Michael derrubar esse muro e tentar se mostrar “normal”?

Se sua resposta for “sim”, então talvez você ainda não compreenda o que torna esse homem Michael Jackson.


Veja o relato de um DJ americano que esteve com Michael na festa:

“A única coisa que me veio à mente foi: ‘Eu amo você, Michael!’”

E o comentário de um músico que trabalhou com ele recentemente em estúdio:

“As pessoas podem falar o que quiserem sobre Michael Jackson. Mas no momento em que ele realmente aparece, e você o vê, é simplesmente: ‘Oh, @#$%, é o Michael Jackson!’ Você esquece toda aquela bobagem que dizia sobre ele.”


Essa mesma sensação que separa Michael de nós é a que o envolve com uma aura de realeza que nenhum outro astro vivo consegue igualar.

Vivemos em uma época em que reality shows despejam novas celebridades no mercado a cada semestre.

Essas celebridades perdem rapidamente o encanto: hoje você é um anônimo, amanhã está nas páginas da Caras.

A proposta do reality show é justamente essa: democratizar a fama.

Você se identifica com a estrela — afinal, ela é “gente como a gente”.


Outros astros, surgidos por vias tradicionais, também aderem a essa lógica e transformam suas vidas em novelas públicas.

Você se identifica com a cantora jovem que inicia uma nova dieta (que você também poderia tentar).
Você se identifica com a atriz que terminou um namoro (algo que também poderia acontecer com você).

Mas você não se identifica com um homem que passeia de pijamas e máscara por um zoológico ou shopping center, seguido por uma multidão de fãs, jornalistas e seguranças.

Esse é um mundo diferente do seu.

Por isso, Michael Jackson é o único remanescente da aristocracia da fama.

Só ele vive uma realidade que você não pode alcançar.

Nem mesmo se for o vencedor de um Big Brother.


É por isso que, quando você o vê, diz: “Oh, @#$%, é o Michael Jackson.”

Um súdito jamais reconhece um rei como um igual — como alguém que ele poderia vir a ser.

Por isso, um súdito jamais deixa de se curvar ao seu rei — nem mesmo nos piores momentos do monarca.


[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.