Por Andréa Luisa Bucchile Faggion;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (Novembro de 2003);
Republicação adaptada pela MJ Beats.
Era para ser a grande história do sonho americano:
O menino negro e pobre que chegou ao topo do mundo… mas que acabou transformado em uma tragédia do pesadelo americano.
Hoje sabemos que Michael Jackson, o gênio da arte popular, por incrível que pareça, não nasceu apenas para vender álbuns e fazer shows.
Ele nasceu para algo maior.
Nasceu para ser o mártir do nosso tempo.
O dia 18 de novembro de 2003 foi apenas o ápice de tudo o que Michael vem nos ensinando há anos.
Por um lado, Michael existe para nos mostrar o quanto julgamos mal aquilo que não compreendemos.
Como dizia o poeta:
Narciso acha feio o que não é espelho.
Por outro lado, Michael existe para levar ao extremo a marca mais triste da nossa sociedade:
Transformamos a vida em um grande espetáculo vazio para a mídia, onde nem a verdade nem os sentimentos dos envolvidos parecem importar.
Consumimos as tragédias da vida alheia com a mesma indiferença com que comemos pipoca diante de um filme de sessão da tarde.
Recentemente, vimos isso se repetir com Michael.
Assistimos ao vivo suas “aventuras” com a polícia, como se fosse um mero programa de entretenimento.
Nos sentimos no direito de vigiar e julgar a vida alheia.
Eis os pilares da nossa sociedade: vigiar e julgar.
Em meio a tanta insensatez, encontrei um raro exemplo de bom senso em um fórum de automobilismo — que, mesmo sem relação com o caso, foi tomado por discussões sobre Michael.
Alguém escreveu:
“Que me importam os supostos problemas sexuais de Michael Jackson? Em que isso afeta minha vida? Isso diz respeito apenas a ele, à justiça local e à comunidade que há em torno dele — não a mim.”
Nada mais simples. Nada mais verdadeiro.
Infelizmente, nada mais distante do que temos presenciado.
O caso, em si, deveria interessar apenas a Michael Jackson e às pessoas que o amam.
Mas a reflexão sobre a repercussão do caso é, sim, de interesse geral.
Ela mostra o quanto nos tornamos abutres, ansiosos por consumir a carniça alheia.
Não passa uma semana sem que uma nova tragédia da vida privada não apareça para nos alimentar.
O Príncipe de Gales, vítima da vez anterior, que o diga.
Mas até quando?
Até quando vamos permitir que vidas sejam controladas e vendidas?
Nós, fãs de Michael, somos aqueles que se levantam e dizem: Basta!
Não foi por acaso — nem apenas por causa da internet — que a comunidade mundial de fãs surgiu depois de 1993.
Foi porque compreendemos o que 1993 significou, não só para Michael Jackson, mas para o mundo.
Em 1993, tentaram nos dizer:
- que não existe mais pureza e inocência;
- que a diferença é perversão;
- que a vida humana pode ser vendida e desrespeitada.
Nós — aqueles que fundamos sites e fóruns ao redor do mundo desde então, aqueles que fomos às ruas quando foi preciso — fizemos isso para dizer:
NÃO!
Hoje, acordamos com um sentimento claro:
Somos muito mais que um fã-clube preocupado com as vendas do novo CD do ídolo.
Nós temos, no cidadão chamado Michael Jackson, uma causa.
A violência da sociedade contra ele nos atinge profundamente — porque atinge, antes de tudo, nossos princípios.
Neverland não é uma casa qualquer.
É o templo de nossa filosofia de vida — que foi profanado.
Nosso líder foi, mais uma vez, humilhado e perseguido.
E nós?
Nós não vamos lutar apenas por um pedaço de terra, nem apenas por uma pessoa.
Nós vamos lutar, mais uma vez, pelo que essa terra e essa pessoa significam:
LIBERDADE, AMOR e VERDADE!
[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.