O início dos anos 2000 foi uma vertiginosa montanha-russa para nós, fãs de Michael Jackson. Depois de anos de rumores e factóides fantásticos de supostos insiders a respeito do lançamento de um novo álbum, finalmente, Invincible era lançado sob uma expectativa quase ingerenciável e incontemplável. A excitação de muitos seria logo substituída por momentos de choque — com a tragédia do 11 de setembro em Nova York durante as celebrações dos 30 anos de carreira do Rei do Pop no Madison Square Garden — , orgulho — com o seu protagonismo no show humanitário United We Stand, remanescente do que havia acontecido mais de 15 anos antes em We Are The World — e revolta — com o completo descaso da Sony Music na promoção daquele que poderia ter sido o comeback mais espetacular de um artista musical.
Bem antes da febre das hashtags, nossos cartazes de “Sony sucks” e outros mais amorosos criavam o cenário de pequenos encontros de fãs a até eventos maiores com presença do próprio Michael que pareciam um manifesto cultural misturado com adoração religiosa. E embora ainda estivéssemos a alguns anos da explosão da mídia social em escala verdadeiramente global, já existia um grande senso de comunidade.
Naquela época, os fóruns ou message boards eram os principais instrumentos de comunicação e articulação de pensamentos por um grupo de pessoas de interesses semelhantes. E foi nesse momento caótico do início daquela década, movido por uma necessidade de organizar melhor os grupos e pensamentos dessa comunidade de fãs — e inspirado pela tecnologia — que decidi criar a MJ Beats com a ajuda de “amigos virtuais”, que eventualmente se tornariam irmãos para a vida toda.
Todos os membros “fundadores” da MJ Beats tinham os seus próprios motivos para estarem ali: conexão, atualização, diversão, mas também solidão, depressão e uma busca por pertencimento. Então falar que a MJ Beats nasceu como uma comunidade é bastante correto, mas para muitos de nós ela foi muito mais do que apenas isso.
Passamos juntos pelas emoções de um julgamento, do qual Michael viria a ser absolvido em 2005. E comemoramos com a Celebration Party em São Paulo, com direito a carta de agradecimento do próprio. E, claro, sofremos juntos aquilo que foi um dos momentos mais tristes das nossas vidas: a passagem do Rei do Pop, em 2009. Desolados, fomos ombros e colos uns para os outros. Descobrimos o propósito de tudo isso e, eventualmente, nos permitimos sorrir e chorar de novo não mais apenas como uma comunidade virtual, mas em encontros reais e em shows-tributo do querido Rodrigo Teaser.
E ao longo desses agora 20 anos de história, nos tornamos pais, irmãos, tios, padrinhos, melhores amigos… Mas, mais importante, continuamos dançando.
por Miguel Dorneles,
Mike Beats