Quando uma MTV racista se rendeu ao talento de Michael Jackson

Talvez a realização mais significante de Michael Jackson tenha vindo com os vídeos.

Tal como as capas de revistas, Grammys e rádio, o plano de Michael Jackson para transpor as barreiras da cor era, simplesmente, fazer algo tão bom que a MTV não poderia resistir. Quando ele viu o canal e a incipiente arte que havia lá, pela primeira vez, ele ficou fascinado, mas sentiu que não estava perto do potencial que tinha.

“Naquela época”, ele escreveu mais tarde, “eu olhava para o que as pessoas estavam fazendo com vídeo e eu não entendia por que tantos pareciam primitivos e fracos. Eu vi crianças assistindo a entediantes vídeos e aceitando-os, porque elas não tinham alternativas.”

Na verdade, a maioria dos vídeos musicais, naquela época, era apresentada, simplesmente, como promos ou comerciais. Eles apresentavam, normalmente, algum tipo de montagem de imagens ou performances ao vivo. Jackson vislumbrou algo diferente: ele queria contar uma história.

A primeira oportunidade de Michael  para realizar essa visão veio com Billie Jean. Com um, então, exorbitante orçamento de $75.000, pago pela CBS, Jackson e o diretor Steve Barron criaram uma pequena obra prima. Havia os passos de dança, é claro: giros e rodopios. Porém, foi a total transformação da cinematografia e o mistério da narrativa que realmente impactou

A MTV, inicialmente, recusou-se a transmitir o vídeo, citando a política de apenas transmitir rock music. Porém, o presidente da CBS, Walter Yetnikoff, que tinha liberado uma enorme quantidade de dinheiro para o vídeo, além do interesse de promover o álbum Thriller, não aceitou a recusa ao seu maior artista. “Eu disse à MTV: ‘Eu estou tirando todos os nossos artistas’”, Yetnikoff recorda. “‘Eu não darei a vocês nem mais um vídeo. E eu irei ao público e contarei a eles sobre o fato de que vocês não querem tocar música de um cara negro. ’”

A MTV cedeu e, rapidamente, colocou Billie Jean em uma pesada rotação devido à demanda da audiência.

Com essa decisão, as paredes desmoronaram.

Depois do sucesso do vídeo de Billie Jean, Jackson subiu a aposta com Beat It. Para essa música, ele tinha um específico conceito em mente. Ele queria que a mensagem antiviolência fosse interpretada literalmente, mas ele não queria ser suave ou didático. Para executar a sua visão ele contratou o talentoso diretor de comerciais Bob Giraldi e o brilhante coreógrafo Michael Peters. Ele também insistiu em filmar os vídeos nas ruas de Los Angeles, em vez de um estúdio. Quando a CBS se recusou a pagar pelo orçamento, Jackson disponibilizou o dinheiro, dele mesmo.

O resultado foi o mais revolucionário e influente vídeo musical que a MTV já tinha transmitido até aquele momento. Inspirado, parcialmente, pelo musical da Broadway, West Side Story, Beat It apresentou tanto graça quanto coragem. A coreografia de grupo, com Jackson liderando em sua icônica jaqueta vermelha, tornou-se o projeto para inúmeros vídeos musicais que viriam.

Beat It foi abordado com um nível de realismo e ambição que o fez completamente diferente de outros vídeos musicais da era. O produto final foi original, provocativo e inovador. A MTV tocou o vídeo ainda mais que Billie Jean, pois os índices de audiência continuaram a subir. O curta-metragem continuaria a ganhar inúmeros prêmio e honras, incluindo o Melhor Vídeo Musical de Todos os Tempos, pelos leitores da Rolling Stones e críticos. Ele, também, colocou o último prego no caixão da relutância da MTV em tocar artistas negros.

E, então, veio o vídeo para “Thriller”. Desde o começo ele foi tratado mais como um longa-metragem, com um orçamento, sem precedentes, de $500.000 (um número que iria, inflar para quase 1 milhão). Jackson atraiu o diretor de comédias John Landis (conhecido, então por Um Lobisomem Americano em Londres) para dirigir o vídeo. Naquele tempo, Landis não sabia muito sobre Michael Jackson, mas decidiu que o projeto soava intrigante o bastante para ele embarcar. Uma vez que o trabalho começou, porém, ele logo percebeu que ele era parte de um fenômeno.

“Foi maravilhoso trabalhar com Michael Jackson, naquela época”, Landis recorda, “porque era o auge — era como trabalhar com os Beatles no auge da Beatlemania ou algo assim, era extraordinário estar com ele, porque ele era absurdamente famoso”.

O vídeo de quatorze minutos é, agora, quase universalmente reconhecido como o mais bem sucedido, influente e culturalmente significante vídeo musical de todos os tempos. Inúmeras publicações e pesquisas tem reconhecido Thriller como o melhor vídeo musical já feito.

Michael Jackson provou, definitivamente, que música não tem fronteiras nem cor.

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