Em um pequeno museu no London Hospital Medical College, um famoso esqueleto humano é mantido a sete chaves. Estes são os ossos do “Homem Elefante” — Joseph Carey Merrick (1862–1890) que sofria de uma condição médica rara, diagnosticada como Síndrome de Proteus, resultando graves deformidades na pele e nos ossos.
As mudanças em seu corpo começaram quando ele tinha aproximadamente 5 anos, entretanto, eram imperceptíveis e Merrick vivia como qualquer pessoa de sua idade. Aos 12 anos, aconteceu aquilo que, segundo ele, seria a maior tragédia de sua vida: sua mãe morreu de broncopneumonia.
A partir daí, ele passou a viver dias cruéis. As deformações em seu corpo cresceram cada vez mais. Angustiado, o pequeno Merrick passou a ser alvo constante de brincadeiras desrespeitosas na escola. Sem sua mãe para consolá-lo, ele optou por abandonar os estudos.
Como se sua própria vida não fosse melancólica o suficiente, seu pai casou novamente e a madrasta passou a maltratá-lo constantemente. Seu pai também já não demonstrava nenhuma afeição, e assim o garoto deformado estava essencialmente sozinho. Ele não podia nem fugir. Nas poucas vezes em que tentou, seu pai o trouxe de volta.
Como não frequentava a escola, sua madrasta exigia que ele trouxesse algum tipo de renda para casa. Então, aos 13 anos, Merrick arrumou emprego em uma loja de cigarros. Lá, ficou por três anos, mas uma deformação em sua mão afetou seu desempenho.
Com 16 anos e sem emprego, Joseph Merrick andava pelas ruas durante o dia, procurando trabalho. Tentou vender mercadorias de porta em porta na loja de seu pai, mas seu rosto contorcido tornava o discurso ininteligível. Sua aparência assustava os possíveis clientes, que evitavam ao máximo abrir a porta para atendê-lo.
O começo no Freak Show e a perspectiva de melhora
A situação de Joseph com sua ‘família’ se tornou insustentável no dia que seu pai o espancou severamente. Sem encontrar alternativa, o jovem fugiu de casa para nunca mais voltar. Abandonado, depois de passar alguns anos vivendo com seu tio, ele escreveu uma carta para o artista musical Sam Torr, que optou por levá-lo em uma turnê. Assim, em 1884, o “meio homem, meio elefante” iniciou sua carreira no Freak Show.
Com o chamado ‘circo dos horrores’, ele passou por diversas cidades inglesas, como Nottingham e Londres. Inclusive, na última, foi que sua vida ganhou mais um capítulo importante. Lá, iniciou a se apresentar na casa de show de Tom Norman — que o abrigou por algum tempo.
Cartaz da apresentação de Joseph Merrick
Com um talento natural para levar pessoas à casa, Tom fez com que o show do “homem elefante” fosse um sucesso. Partes do lucro eram repartidas com Merrick, que esperançosamente guardava parte dos ganhos para comprar sua própria casa em um futuro próximo.
A casa de Tom ficava do outro lado da rua do hospital de Londres, onde trabalhava o Doutor Frederick Treves. Curioso pelos comentários sobre o espetáculo do “homem elefante”, o médico decidiu marcar uma hora antes do trabalho para visitá-lo.
Horrorizado, ele perguntou se poderia levar Merrick para realizar um exame no hospital. Ao longo de algumas visitas, Treves fez algumas anotações e também o medicou. Mas a essa altura, os Freak Show estavam perto do fim. A polícia fechava as casas de espetáculo por questões de moralidade e decência.
No porão do hospital, dois quartos adjacentes foram especialmente adaptados para ele. O lugar não tinha espelhos, para evitar lembra-lo de sua aparência, e um acesso ao pátio. Nos últimos quatro anos em que ficou no hospital, ele aproveitou sua vida mais do que nunca.
Treves o visitava quase todos os dias. Ele considerava Merrick uma pessoa com um intelecto completamente normal. Afinal, embora Joseph tivesse completa ciência da injustiça que permeava sua existência, ele jamais demostrou desafeto em relação ao mundo que parecia sempre virar de costas quando ele mais precisava.
Apesar de viver uma vida normal nos últimos anos, o estado de saúde de Merrick diminuía constantemente. As deformidades em seu rosto, assim como toda a cabeça, continuaram a crescer. Em 11 de abril de 1890, um funcionário do hospital encontrou ele morto em sua cama.
A história de Merrick ressoou profundamente em Michael Jackson, que viu paralelos entre sua própria vida e a de Merrick. A história conta que Michael assistiu ao filme em preto e branco de 1980 de David Lynch, “O Homem Elefante” 35 vezes e sempre chorava ”.
Então, em 30 de maio de 1987, o Los Angeles Times publicou a seguinte notícia:
‘‘Michael Jackson apresentou uma oferta oficial, por uma quantia não revelada para os restos mortais do falecido John Merrick, conhecido como o Homem Elefante. De acordo com o empresário de Jackson, Frank Dileo, de Los Angeles: “Jackson tem um alto grau de respeito pela memória de Merrick. Ele leu e estudou todo o material sobre o Homem Elefante e visitou o hospital em Londres duas vezes para ver os restos mortais de Merrick. Seu fascínio pelo significado histórico dele aumentava a cada visita. “Jackson, acrescentou Dileo, “não tem nenhuma intenção de comprar os ossos do Homem Elefante”.
Muitas vezes foi dito que Frank Dileo foi a fonte de alguns dos mitos mais bizarros dos tabloides sobre Michael Jackson — os ossos do Homem Elefante e dormir em uma câmara hiperbárica são dois exemplos óbvios. Também foi dito que alguns desses mitos que chamam as manchetes se originaram do próprio Michael, ou foram pelo menos aprovados por ele sob a crença de que “qualquer publicidade é boa publicidade”, o que sabemos muito bem para ser uma falácia absoluta .
Em seu livro “My Family, the Jacksons”, sua mãe Katherine escreveu:
Para ser justa, algumas das histórias foram espalhadas pelo próprio pessoal de Michael. Estou me referindo aos relatos bobos de que Michael havia dormido em uma câmara hiperbárica e fez uma oferta para comprar os ossos do Homem Elefante. Não falei com Michael sobre os rumores, então não sei que papel ele teve em divulgar as histórias. Mas eu assisti com desânimo enquanto seu empresário, Frank Dileo, divulgava as histórias para a imprensa … Quanto aos ossos do Homem Elefante, não tenho ideia se Dileo fez uma tentativa em nome de Michael para comprá-los. Se ele fez isso, ele o fez de brincadeira. E se por algum milagre o centro médico de Londres dono dos ossos tivesse concordado em vendê-los, Michael me conhece bem o suficiente para saber que eu não o teria deixado entrar em casa com eles.
Quando, em 1993, Oprah Winfrey perguntou a Michael se era verdade que ele queria comprar os ossos de Merrick, ele respondeu que era apenas uma história:
“Por que eu iria querer esse ossos?”
No entanto, a história persistiu, tornando-se uma lenda urbana na vida de Michael.
Em 1988, o próprio Michael destacou o absurdo da história dos ossos do Homem Elefante ao “dançar” com uma versão animada do esqueleto de Merrick no curta-metragem Leave Me Alone.
Embora disfarçada como um conto de amor que deu errado, a música poderia ter sido um apelo ao próprio Merrick enquanto ele tentava escapar daqueles que o seguiam e o assediavam por curiosidade de suas deformidades, rotulando-o de “aberração” ou “monstro”.
Como Michael explicou em sua autobiografia Moonwalk:
“A música é sobre um relacionamento entre um homem e uma mulher. Mas o que realmente estou dizendo para as pessoas que estão me incomodando é: ‘Deixe-me em paz’.
O curta-metragem Leave Me Alone é rico em imagens que zombam dos tabloides, mas sua dança com os ossos do Homem Elefante é particularmente fascinante. Michael e o esqueleto animado aparecem como se estivessem em um show de horrores.
Se analisarmos a iconografia no contexto da vida dos indivíduos retratados, por exemplo, o Homem Elefante preso em sua deformidade; Michael Jackson acorrentado por sua fama, ambos objetos de curiosidade de um público insaciável. As deformidades de Merrick o fizeram usar um capuz sobre a cabeça, o vitiligo de Michael o levou a usar uma maquiagem cada vez mais pesada para mascarar a despigmentação de sua pele.
Ambos eram seres humanos sensíveis que foram rotulados como aberrações.
A história de Merrick é, em última análise, uma tragédia — o tipo que acontece com pessoas que parecem não ter feito nada para merecer o que a vida lhes causou e, ao lidar com suas adversidades, expõe alguns os males da sociedade. “A desumanidade do homem para com o homem; é disso que se trata a guerra”, disse Michael na entrevista à Ebony/Jet.
A vida de Michael Jackson foi um triunfo sobre sua educação rígida e sua própria ética de trabalho. No entanto, ele também queria poder descansar como homens comuns; deitar a cabeça no final de um dia de ensaio e ter uma boa noite de sono.
Visto desta perspectiva, o desejo de normalidade em vidas que eram tudo menos “normais” causou a morte de Merrick e Jackson. — Merrick em acidentalmente (ou propositalmente), Michael Jackson com o Propofol para induzir ao sono.
No entanto, o que há realmente em termos de semelhanças entre esses dois homens?
Sem idade, etnia, nacionalidade e nem mesmo habitando a mesma época da história. Um morava em um hospital o outro alugava mansões luxuosas. Jackson tinha sua própria família, Merrick não, além de seu círculo de amigos e visitantes no hospital.
Michael Jackson chorou pela história de Merrick; choramos pelos maus-tratos de Jackson por seu pai, a mídia e por sua trágica morte. Seja mostrando ou recebendo empatia os dois homens estão ligados por sua humanidade.
A história de Joseph Merrick e Michael Jackson nos ensina uma lição que a raça humana há muito tempo não aprende — compreensão e compaixão.
“A vida é muito preciosa e curta para não estender a mão e tocar as pessoas que precisam” – Michael Jackson
por Kerry Hennigan com trechos do artigo do site Aventuras da História