Alguns filmes têm a capacidade de transcender o tempo e se alojar para sempre na memória coletiva, tornando-se algo maior do que meras histórias. A Cor Púrpura, dirigido por Steven Spielberg e baseado no romance icônico de Alice Walker, é uma dessas obras que tocam profundamente.
Este drama poderoso, estrelado por uma jovem e audaciosa Whoopi Goldberg no papel de Celie, narra a trajetória de uma adolescente negra que enfrenta abusos inimagináveis e a brutalidade do racismo e do sexismo, mas que encontra, por fim, sua força e sua voz. Ambientado em uma época em que as mulheres negras eram vistas como cidadãs de segunda classe, o filme é um grito contra as injustiças, e uma celebração da resistência e da resiliência.
Whoopi Goldberg, a atriz revelação, lembra vividamente do momento de sua audição para o papel. Na sala de espera, cercada por grandes nomes, ela vislumbrou uma cena que parecia saída de um sonho: Steven Spielberg, Quincy Jones e ninguém menos que Michael Jackson estavam ali, observando-a.
Esse momento foi para Whoopi a realização de um sonho, mas também simbolizava a responsabilidade de representar, com dignidade e intensidade, o sofrimento e a vitória de tantas mulheres que, como Celie, aprenderam a superar suas adversidades.
Rebecca Walker, filha da autora Alice Walker, estava também entre os espectadores daquele dia inesquecível. Sentada na primeira fila ao lado de Michael Jackson, ela recorda o magnetismo do artista, vestido com sua icônica jaqueta vermelha e uma única luva. Embora cercado por celebridades, foi a jovem Rebecca quem capturou sua atenção.
Michael, surpreendentemente vulnerável e reservado, confidenciou a ela seu nervosismo e sua admiração pela capacidade de improviso de Rebecca, revelando uma face raramente vista: a de um artista sensível, que buscava segurança e conexão em um ambiente de estrelato.
A própria Alice Walker escreveu, em uma carta a Paris Jackson, sobre o impacto de conhecer Michael. A autora ficou fascinada pela timidez do cantor, que, apesar de estar entre amigos, quase não conseguiu se comunicar com ela.
De acordo com Walker, Michael se identificava tanto com A Cor Púrpura que chegou a se imaginar na pele de Celie.
Ao refletir sobre o impacto de A Cor Púrpura em Michael, é impossível não enxergar nele a força de quem, mesmo vulnerável, se recusa a ceder diante das injustiças. Assim como Celie, ele encarou seus próprios tormentos – a discriminação, os julgamentos implacáveis e as batalhas internas – e, apesar de todos os desafios, transformou sua dor em um poderoso grito por igualdade e respeito.
Michael não apenas viveu a luta contra a opressão racial – ele a dançou, a cantou, e a eternizou.