Na calmaria do estúdio, longe dos holofotes e das coreografias milimetricamente ensaiadas, Michael Jackson improvisava. Com um CD de AC/DC girando em segundo plano e a mente fervilhando de ideias, ele trocava olhares e acordes com o produtor Bill Bottrell. Era uma sessão informal, quase acidental, mas que entraria para a história — não pelas paradas de sucesso, mas pela crueza emocional que deixaria registrada. Ao lado deles, Brad Sundberg, engenheiro de som, captava tudo: vozes, risadas, dúvidas e uma canção nascendo em tempo real.
Foi Sundberg quem, anos depois, deixaria escapar ao mundo esse momento mágico e desarmado. Durante um de seus seminários, no início de 2010, o engenheiro compartilhou um fragmento da sessão — e o que era para ser apenas um material técnico virou um documento precioso. Ali estava Michael, sem maquiagem, sem dançarinos, sem pressa. Só sua voz brincando com o ar, como um garoto curioso testando brinquedos novos. Ele se lançava em frases soltas no estilo Dig It, dos Beatles: “like CIA”, “like FBI”, “like a rolling stone”… e até um divertido “like B.B. King”.
À medida que os minutos passavam, algo inesperado ganhava forma. Uma balada. Uma melodia que, embora lembrasse a força de Dirty Diana, cavava seu próprio caminho, carregando uma dor mais íntima, mais resignada, era o esboço cru de Give In To Me.
Bill Bottrell, relembra dessa sessão. Segundo ele, foi Jackson quem buscou algo mais “solto, mais instintivo”. Gravaram com um loop de bateria simples, Bottrell no violão e Michael no microfone, sentado em um banquinho. “Michael adorou”, diz o produtor, “mas eu fiquei inseguro.” A insegurança viria a se materializar quando a gravadora decidiu “embelezar” a faixa com a guitarra feroz de Slash, numa tentativa de moldar a espontaneidade ao gosto comercial da época.
A canção, enfim, foi lançada em 15 de fevereiro de 1993, como o sétimo single do álbum Dangerous. Ainda que tenha contado com um clipe denso e provocativo, Give In To Me passou quase despercebida entre os grandes hits do Rei do Pop.