O Criador de Monstros e o Rei do Pop: A história não contada por trás da música “Threatened”
Você já imaginou como seria o videoclipe para a música “Threatened”, do álbum Invincible de Michael Jackson? Se “Thriller” foi o pesadelo que dançou nas telas dos anos 80, “Threatened” prometia ser o delírio final – uma última invocação de sombras comandada por dois mestres do medo: Michael Jackson e Rick Baker. O projeto, no entanto, permaneceu no limbo criativo, soterrado por silêncio e tempo.
Mas e se tivesse acontecido?
Nos anos 80, um nome era sinônimo de monstros: Rick Baker. Enquanto o horror invadia o mainstream com garras e dentes, ele se tornava o grande arquiteto do grotesco. Ganhador de sete Oscars, incluindo o primeiro concedido na história da Academia à maquiagem, por “Um Lobisomem Americano em Londres”, Baker foi o gênio por trás de criaturas que pareciam saídas diretamente do inconsciente coletivo. E foi com essa credencial que Michael Jackson o escolheu para dar vida a um dos videoclipes mais icônicos de todos os tempos: “Thriller”.
Mas o que poucos sabem é que a parceria entre os dois não terminou ali. Após “Thriller”, Jackson e Baker estreitaram uma amizade improvável e íntima. Jantares, sessões de filmes em casa, e até encontros com Bubbles, o chimpanzé de estimação de MJ, marcaram a relação entre o rei do pop e o criador de horrores. E dessa cumplicidade, nasceu uma nova ideia: um novo clipe, para uma nova música.
O título? “Threatened”.
A canção soa como uma continuação espiritual de Thriller: samples de Rod Serling (o narrador original de “Além da Imaginação”), batidas urbanas, e um clima de suspense envolvente. Jackson estava decidido: queria que Rick dirigisse o clipe, queria que os monstros ganhassem vida novamente. Queria, talvez, um último grito, um retorno às raízes que misturavam dança e terror em uma alquimia única. “Eu fiquei tipo, ‘Uhhhh…!’”, relembra Baker em entevista ao Yahoo. A pressão, o legado, o tempo – tudo era maior agora.
Durante a gravação de “Thriller”, Baker já havia enfrentado limites quase inumanos. “O tempo era a criatura mais assustadora”, disse ele. A maquiagem dos dançarinos foi feita às pressas, três dias antes das filmagens. Foi então que, num gesto de paixão e desespero, ele e sua equipe decidiram usar suas próprias máscaras e se tornaram os zumbis que saem das sepulturas. Um sacrifício artístico que definiu o tom da obra – e que hoje é história.

A visão para “Threatened” seria diferente, mais sombria, mais introspectiva. Baker, agora veterano e longe do caos de Hollywood desde sua aposentadoria em 2015, dedica-se a esculturas minuciosas, como o busto monstruoso do Coringa para a DC Collectibles. Mas algo em “Threatened” ainda o assombra. “Era como voltar a brincar de criar pesadelos”, conta. Mas esse pesadelo nunca se materializou.
O clipe obviamente nunca foi filmado. Ficou apenas no plano das ideias, nas conversas entre amigos, e no brilho nos olhos de um Michael que ainda queria reinventar o medo.
A verdade é que muitos dos sonhos artísticos de Jackson foram engolidos por sua amarga briga com a Sony Music. Threatened, assim como outros projetos visionários que ele planejava para o álbum Invincible, foi vítima de uma batalha travada nos bastidores – uma guerra de poder, controle e frustração criativa.