This Time Around: A música que uniu Michael Jackson e Notorious B.I.G.

This Time Around: A música que uniu Michael Jackson e Notorious B.I.G.

Havia uma energia diferente no estúdio Larrabee North naquele dia. Era como se os deuses da música tivessem marcado um encontro improvável entre duas forças culturais que pareciam habitar universos paralelos: Michael Jackson, o Rei do Pop, e Christopher Wallace — o Notorious B.I.G., o gigante do rap da Costa Leste. No centro desse vórtice criativo, um jovem produtor afro-americano chamado Dallas Austin orquestrava a conexão de mundos. Ele vinha de uma trajetória ascendente, conhecido por dar o tom urbano a grupos como Boyz II Men e Troop, e agora, estava diante de uma missão que poucos ousariam sonhar: produzir para Michael.

Dallas já havia experimentado o gosto do underground com seu grupo Highland Place Mobsters e, mais especificamente, com a faixa “Dirt Road White Girl”, que reverberou nos clubes como um sussurro carregado de promessas. Foi essa ousadia sonora que atraiu Michael Jackson, sempre atento a novos talentos. Michael queria algo moderno, com batida de rua, mas com sua assinatura lírica e dramática. Quando Dallas sugeriu um ritmo que havia criado para George Clinton, MJ ouviu, mexeu, alterou. Fez da ideia algo só dele. E assim nasceu This Time Around.

Com Renee Moore e o lendário engenheiro Bruce Swedien ao lado, Dallas Austin lapidou a canção com a precisão de quem sabia que estava esculpindo algo raro. Mas faltava um elemento: o rap. E num tempo em que a rivalidade entre as costas dominava o hip-hop, a escolha de Biggie, o poeta sombrio do Brooklyn, não foi por acaso. Sua voz grave e narrativa brutal dariam à faixa o peso urbano que Jackson buscava — mas com riscos.

Biggie chegou ao estúdio respeitoso, quase reverente, e trouxe duas versões do rap: uma limpa e outra crua. Para surpresa geral, Michael optou pela versão sem censura.

O assistente de som John Van Nest estava lá e se lembra da atmosfera. Biggie entrou como um colosso, mas logo se revelou fã. “Posso conhecer o Mike?”, perguntou. Dallas pediu paciência. O foco era gravar. Duas tomadas bastaram para eternizar sua contribuição. Depois disso, finalmente, o encontro aconteceu. Michael entrou na sala. O gigante do rap derreteu. Quase chorou. Porque, naquele momento, ele não era Biggie, nem Notorious. Era Christopher, o menino da Filadélfia que cresceu ouvindo “Off the Wall” no rádio.

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A sessão foi breve, mas deixou cicatrizes positivas na memória de todos os presentes. Biggie e Michael trocaram algumas palavras e tiraram uma foto que hoje parece pertencer a outra dimensão — um raro momento de paz entre dois mundos. O rap havia entrado oficialmente no reino do pop, com a benção do seu rei. This Time Around se tornou parte do ambicioso álbum HIStory, e embora não tenha sido um sucesso comercial de massa, trouxe à tona uma ousadia artística que poucos notaram na época.

O lançamento da faixa foi tímido: promos em vinil, um CD circulando nos bastidores da indústria e menções a um show da HBO que nunca aconteceu. Ainda assim, há algo quase mítico em sua existência. Uma canção que não chegou às massas, mas selou um pacto entre duas forças criativas que, naquele estúdio em Los Angeles, romperam barreiras culturais, raciais e sonoras.

Anos depois, com Notorious B.I.G já ausente fisicamente, sua voz ressurgiria em um novo contexto. A faixa “Unbreakable”, do álbum Invincible (2001), trouxe de volta um verso poderoso — reaproveitado da música “You Can’t Stop the Reign”, de Shaquille O’Neal — sobre uma base moderna, melódica e potente. A presença de Biggie, mesmo póstuma, serviu como um tributo simbólico à conexão entre os dois artistas.

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