“Michael Jackson pegou na minha mão”: os bastidores de ‘Scream’
Talvez eu devesse ter contado anos atrás. Tem sido o meu pequeno segredo por muito tempo, um fragmento guardado da história da música pop e da intimidade dos bastidores. Agora, decido quebrar o silêncio e tornar público o fato de que Michael Jackson pegou minha mão. E não foi apenas um gesto – foi um momento de humanidade em meio ao caos da grandeza.
Tudo aconteceu na Universal Studios, durante as filmagens do icônico videoclipe Scream, estrelado por Michael e sua irmã, Janet. Eu já havia tido contato com ele anteriormente, durante os ensaios da turnê Dangerous, mas nada me prepararia para a noite em que nossos mundos se tocariam, literalmente, em um gesto simples, mas cheio de significado.
O clipe de Scream, dirigido pelo perfeccionista Mark Romanek e com direção de arte de Tom Foden, teve um orçamento lendário – algo próximo a 8,3 milhões de dólares. Metade desse valor foi destinado ao departamento de arte, o que exigiu que três naves inteiras da Universal fossem transformadas em cenários de outro mundo. Eu era o representante do departamento no set – o “cara” da arte – responsável por estar ali o tempo todo, pronto para resolver problemas em tempo real.
No primeiro dia de filmagem, com o set fervendo e os nervos à flor da pele, recebi a notícia de que Michael chegaria apenas à tarde. E assim foi. Por volta das 16h30, ele apareceu – elegante, reservado, pronto para gravar. A primeira cena? Michael dançando sobre um solo branco. Quando ele reclamou que o piso escorregava, fui chamado com minhas ferramentas: uma lixa de metal, um pano e um spray especial. Fiz meu trabalho. Quando me levantei, Michael olhou para mim e sorriu: “Eu me lembro de você dos ensaios da turnê.”
A gravação se estendeu noite adentro, como seria pelos próximos 20 dias. Em um desses longos turnos, finalmente chegamos ao último dia de filmagem – e à última cena, no chamado cenário “zen”. Era um templo efêmero, mas Michael estava relaxado, em paz, satisfeito. Era visível que ele gostava daquele ambiente.
Foi durante esse momento, no encerramento, que o acaso interveio. Enquanto serrava uma parte do teto, acabei cortando feio o terceiro dedo da mão esquerda. Sem alarde, enrolei um pano no ferimento e saí discretamente do cenário. Tom, nosso diretor de arte, me acompanhou até a lateral da nave. Lá estávamos, no asfalto frio, cercados por alguns membros da equipe. Era madrugada e o mundo parecia suspenso no tempo.
Foi então que o impossível aconteceu. O círculo de pessoas se abriu e Michael surgiu. Parou, olhou para mim, para minha mão ferida. Sem dizer uma palavra, ajoelhou-se ao meu lado e pegou minha mão direita. Apertou com firmeza e disse, com lágrimas nos olhos: “Sinto muito, sinto muito mesmo.” A sinceridade era tão desarmante quanto inesperada. Em silêncio, ele me levou até a ambulância, como quem conduz um amigo.
Na semana seguinte, enquanto me recuperava em casa, recebi uma entrega inesperada: presentes de Michael e Janet. Um roupão, incensos, um cartão… tudo escolhido com um carinho que vai além do profissionalismo. Era humanidade. Era cuidado. Era Michael Jackson como poucos conheceram.
Essa é a minha história. Não sobre música, ou fama, ou bastidores. Mas sobre um momento simples e profundo. Michael Jackson pegou minha mão – e, por um instante, o mundo parou.
publicado no ‘The Venice Arts Club’ em 6 de setembro de 2009