O Tabuleiro de Hits: Como Michael Jackson escolhia suas músicas?
Era como um jogo de tabuleiro. Cada título de música era meticulosamente escrito em um cartão 3×5 e disposto sobre uma mesa — não ao acaso, mas em ordem hierárquica, do mais promissor ao mais dispensável. O destino de um álbum inteiro — e muitas vezes da cultura pop — começava ali, em silêncio, sob luzes suaves e olhos atentos.
Brad Sundberg, profissional responsável pelos sistemas de som nos estúdios de Michael Jackson, revelou esse ritual que poucos fora do estúdio conheciam.
A mente por trás dessa operação era, na maior parte do tempo, um trio sagrado: Quincy Jones, Michael Jackson e Bruce Swedien. Eram eles que davam vida à alquimia do som, separando as pepitas de ouro das promessas falhas. E quando Quincy deixou o processo, coube a Bruce — com sua sensibilidade técnica e seu ouvido clínico — o papel de guia sonoro ao lado de Michael.

Escolher quinze músicas era só o começo. Quando a seleção inicial era feita, um novo quadro surgia. Nele, as músicas passavam a ser reposicionadas de acordo com narrativa, energia, e impacto emocional. Era mais que ordem: era arquitetura musical, era construir uma viagem sonora. O álbum não era uma simples coletânea, mas uma história com início, meio e fim.
Mas nem toda canção conseguia seu lugar no palco. Algumas, mesmo com brilho, ficavam no escuro. Brad não esconde seus favoritos entre os “quase escolhidos”: “Streetwalker”, “Someone Put Your Hand Out” e “Monkey Business”. Faixas que respiravam vida, mas que talvez não coubessem na paleta final do projeto. Eram diamantes que não encontraram moldura — e ainda assim, reluziam.
Há algo de quase trágico nesse processo. Saber que músicas geniais foram deixadas de fora por uma escolha estética ou narrativa nos faz refletir sobre o quão precisa e implacável era a régua criativa no império Jackson. O que parecia natural aos ouvidos do público era, na verdade, o produto de uma coreografia estratégica e emocional nos bastidores.
Essa seleção silenciosa, feita longe das câmeras, é o que separa artistas de lendas. E Michael Jackson, com sua obsessão pela perfeição, provava ali, cartão por cartão, que não deixava nada ao acaso. Porque para ele, cada nota, cada pausa, cada batida… tinha um propósito.