Imagem de "Can You Feel It", dos Jacksons

Amor Incondicional

Por Emil Wilbekin;
Tradução por Luis Fernando Longhi;
Originalmente publicado na coluna “Amém”, Edcyhis (2002);
Republicação adaptada pela MJ Beats.


Michael Jackson é um caso de estudo quando se trata de consciência cultural — e da nossa própria. Não importa o quanto ele tenha se transformado ao longo dos anos, ou o fato de insistir no título de Rei do Pop, ou ainda de se refugiar em seu lendário rancho Neverland com seus filhos, Prince e Paris — entre os verdadeiros apreciadores da música urbana, não há ressentimento.
Nós amamos Michael, incondicionalmente.

Quer um exemplo? Pergunte a Jay-Z, que subiu ao palco com Michael no Hot 97 Summer Jam, em Nova York, no ano passado. Ou a Usher, cuja coreografia e presença de palco são profundamente inspiradas em Michael. Ou a Missy Elliott, cuja estética visual tem raízes no revolucionário “Thriller“. Ou ainda aos roqueiros do Alien Ant Farm, que emplacaram um cover de “Smooth Criminal“. Sem esquecer Chris Tucker, que homenageia Michael desde os tempos de Def Comedy Jam.

O que importa é que, independentemente de sua aparência ou das controvérsias que o cercam, Michael Jackson continua sendo, em essência, o mesmo garoto negro de Gary, Indiana, que se tornou um superstar.
Nós crescemos com ele.
Ele ajudou a moldar a identidade cultural de gerações e ampliou os horizontes sociais.

Lembramos do Michael carismático, garoto prodígio do Jackson 5, com seu cabelo afro. Lembramos da emocionante “Ben“, canção-tema de um improvável filme sobre a amizade entre um menino e um rato. Clássicos como “ABC“, “I’ll Be There” e “Dancing Machine” estão cravados em nossa memória.

Off the Wall embalou a juventude com seu espírito livre. A performance do moonwalk no especial Motown 25 foi um marco cultural. E então veio Thriller.

Nos últimos meses, muitos me perguntaram insistentemente se ou quando Michael Jackson apareceria novamente na capa da VIBE. Fizemos isso em 1995 — e estamos fazendo de novo agora. Afinal, Michael é um dos pilares da música urbana. Quem mais vendeu 57 milhões de cópias de um único álbum e conquistou 13 Grammys e 21 American Music Awards?

Michael personifica o sonho urbano.
Com talento inigualável como cantor e dançarino, ele pavimentou o caminho para artistas como Whitney Houston, Destiny’s Child, R. Kelly e tantos outros que conseguiram transcender seu nicho original sem perder as raízes. Michael sabe disso. É por isso que a VIBE foi a única revista de música que ele escolheu para acompanhar o lançamento de seu décimo primeiro álbum solo, apropriadamente intitulado Invincible.

Outra pergunta que tenho ouvido com frequência: “O que você achou de Invincible?”
Eu gostei. O álbum me lembra o “velho” Michael, mas acredito que levará alguns anos até que as pessoas o apreciem de fato.

A faixa de abertura, “Unbreakable“, tem aquela batida característica de Michael, impossível de resistir. Assim como “Jam“, “Remember the Time” e “Bad“, ela evoca o espírito vibrante das pistas de dança. “Heartbreaker” traz ecos de “Wanna Be Startin’ Somethin’” e “Dangerous“.

Quanto aos dois primeiros singles — “You Rock My World” e “Butterflies” — são faixas seguras, de apelo comercial, mas que talvez não mostrem toda a potência musical de Michael — aquele brilho inconfundível dos seus “woo-hoo“.

Minha faixa favorita do álbum é “Break of Dawn“.
Essa sim é Michael em sua essência.
Com sons de pássaros, uma batida suave, flautas, cordas e uma performance vocal que remete a “Man in the Mirror“, “Liberian Girl” e “Human Nature“.
É uma canção que se sente. E em um mundo pós-11 de setembro, sua letra — cheia de esperança, amor e magia — é ao mesmo tempo reconfortante e libertadora.

“Break of Dawn” mostra a verdadeira capacidade de Michael de tocar nossas vidas e corações com a paixão da sua voz.
Nós te amamos, Michael… mas sabemos que você nos ama ainda mais.[*]


[*] Este texto foi adaptado para refletir os valores e diretrizes atuais, com o objetivo de preservar sua relevância e respeito ao público contemporâneo.