Past:
Antes que existissem redes sociais, hashtags ou o termo fandom, falávamos simplesmente em “comunidade de fãs”. E foi exatamente isso que a MJ Beats ajudou a formar — uma rede espontânea, diversa e apaixonada, unida pelo desejo de compartilhar, discutir e preservar o legado de Michael Jackson.
Mas para entender o surgimento da Beats, é preciso voltar ainda mais no tempo, aos anos 1990, quando os fãs brasileiros se organizavam por listas de e-mail, newsletters e fóruns rudimentares. Entre as maiores referências da época estavam o MJIFC (International Fan Club) e o site Planet Jackson. Era um cenário limitado, mas fértil — onde surgia também a Edcyhis (Every Day Create Your HIStory), uma revista digital independente, que combinava design inovador, colunas autorais e atualizações frequentes. Foi a Edcyhis que moldou o estilo e a ética editorial que mais tarde se tornariam marca registrada da MJ Beats.
A Beats nasceu da frustração com os limites técnicos das plataformas da época e do desejo de oferecer algo mais dinâmico, interativo e acolhedor. Em 2002, aproveitando os conhecimentos em Ciência da Computação e PHP, Miguel Dorneles (Mike) criou o primeiro fórum MJ Beats, inspirado nos grandes fóruns internacionais como o MJ Hideout, mas com uma proposta tropicalizada e autoral. O objetivo era claro: reunir fãs de língua portuguesa em um ambiente organizado, leve e profundo — onde se pudesse falar de Michael sem ruído e sem banalização.
“A Beats é uma comunidade pré-rede social. Numa época em que falar de Michael Jackson fora dela era quase sempre superficial, os debates ali dentro tinham profundidade. Mesmo com discordâncias, o ambiente era bom, positivo.”
— Rodrigo Teaser
O fórum cresceu rápido. Dezenas viraram centenas. Depois, milhares. E com o tempo, a Beats foi se tornando um ponto de encontro diário para fãs do Brasil, de Portugal e de outros países lusófonos. Era uma espécie de lar digital — onde cada tópico, cada avatar e cada assinatura ajudava a construir uma identidade coletiva.
Em 2005, veio o marco definitivo: a Celebration Party, evento físico realizado em São Paulo, com fãs vindos de diferentes estados. Organizado como uma resposta emocional ao julgamento de Michael, o encontro foi pensado com um ano de antecedência e teve como ápice a leitura de um fax enviado pelo próprio artista aos fãs brasileiros. Mais do que uma festa, foi um rito de passagem. Da tela para o abraço. Da comunidade digital para o mundo real.
“A Beats era o oposto da toxicidade que a gente vê hoje nas redes. Era gostoso de acompanhar. Até quem não fazia parte da equipe pensava: ‘Que da hora existir isso. Brasileiro, bem feito, bem organizado’.”
— Rodrigo Teaser
Present:
Duas décadas depois, a MJ Beats continua em movimento. O antigo fórum deu lugar a canais que acompanham a lógica das redes sociais — e, mesmo assim, preservam a profundidade que sempre diferenciou a página.
- Facebook como vitrine principal
A fanpage concentra hoje cerca de 1,5 milhão de seguidores orgânicos, número expressivo para um nicho tão específico. Ali, a Beats publica notícias curadas, trechos históricos, fotos restauradas e lembretes de datas-chave do catálogo de Michael. - Site‐arquivo e curadoria editorial
Percebendo que posts rápidos não bastam, a equipe reativou o site oficial como hub de memória. Artigos clássicos da Edcyhis, traduções raras e análises longas foram recuperados, editados e indexados — tudo pensado para consulta fácil e leitura agradável. - Podcast e narrativas em áudio
Os debates que antes rendiam páginas de fórum hoje viram conversas em formato podcast. Roteiros produzidos com apoio de IA garantem ritmo, checagem de dados e acessibilidade a quem prefere ouvir. - Compromisso com veracidade
Na era das fake news, a Beats se posiciona como guardiã de fatos: checa rumores, destrincha documentos jurídicos e oferece contexto histórico quando a discussão sobre Michael descamba para o sensacionalismo.
“Tenho só boas recordações. Pra mim, a Beats fez e faz MUITO.”
— Rodrigo Teaser
Em resumo, a comunidade Jacksonmaníaca que começou trocando mensagens em 2002 agora se distribui entre timeline, feed, player de áudio e páginas de referência — sempre com a mesma missão: informar, conectar e celebrar a obra do Rei do Pop sem superficialidade.
Future
O futuro da MJ Beats passa pela mesma inquietação que a originou: como tornar a experiência de ser fã algo mais completo, acessível e significativo — agora com as ferramentas que os tempos atuais oferecem?
Se no começo o desafio era organizar um fórum funcional, hoje o projeto olha para bases de dados estruturadas, acessíveis por inteligência artificial. A ideia não é apenas preservar textos antigos, mas torná-los vivos. Trechos de artigos, entrevistas e análises que antes ficavam enterrados em páginas estáticas poderão ser redescobertos por meio de buscas inteligentes, assistentes de voz e até sistemas de geração de conteúdo.
Mais que um memorial, a Beats quer ser um centro de produção criativa, combinando memória e imaginação. Isso significa não apenas garantir os fatos — mas também abrir espaço para a criação de conteúdos narrativos, vídeos, experiências imersivas e fanfics embasadas na realidade. O que já foi publicado sobre a HIStory World Tour, por exemplo, pode virar documentário. Um texto crítico sobre Invincible pode se transformar num ensaio visual. Um debate antigo do fórum pode ressurgir em forma de roteiro animado.
É o que Richard Mendelsohn (Beakman) e Miguel chamaram, em sua conversa, de dupla função da Beats no presente-futuro:
A fanfic e o fact.
Um alimenta a criatividade, o outro protege a verdade.
E nesse equilíbrio entre sonho e documento, a MJ Beats continua fazendo o que sempre fez: mantendo vivo o legado de Michael Jackson em português, com profundidade, responsabilidade e coragem de se reinventar.
Como resume Fellipe Z1M, um dos guardiões da Beats:
“Pra mim, a MJ Beats é mais que uma página… é um espaço onde fico eu e ele. Porque o Michael, pra mim, nunca morreu. Eu escrevo tanto, falo tanto, respiro tanto MJ… que ele continua aqui. Presente. Vivo. Um amor eterno.”
“Estar à frente desse projeto, nesses anos, é como estar em casa — um refúgio no meio da correria da vida.”
“A MJ Beats é eterna. E isso é por nossa causa.”
(Obrigado, Fê. Sem sua disposição a Beats não teria seguido tão longe).