Michael Jackson e a História por trás de HIStory: Música, Estátuas e Dor | history pose orig

Michael Jackson e a História por trás de HIStory: Música, Estátuas e Dor

Em junho de 1995, Michael Jackson lançou um de seus trabalhos mais ambiciosos: HIStory: Past, Present and Future, Book I. O álbum duplo trazia em seu primeiro disco uma coletânea de grandes sucessos, enquanto o segundo apresentava músicas inéditas, intensas e carregadas de emoção. Era a obra mais pessoal de sua carreira.

Michael usou esse projeto para expor dores profundas e críticas. Ele transformou em arte tudo aquilo que o machucava em silêncio: acusações, julgamentos, perdas e traumas. Era mais do que um disco. Era uma forma de gritar para o mundo a sua verdade.

Enquanto a gravadora pensava em algo comercial e rápido — um simples “Greatest Hits” com dois singles novos — Michael queria fazer história de novo. Em vez de seguir fórmulas, decidiu reescrever as regras. Foram três anos de gravações ininterruptas, com equipes trabalhando em diferentes estúdios, dia e noite.

Dan Beck, executivo da Epic Records, foi um dos responsáveis por acompanhar esse processo de perto. Ele se envolveu com o projeto desde o início e teve uma ideia que mudaria tudo: o nome “HIStory”. Um trocadilho entre “história” e “his story” — “a história dele”. Nascia ali uma definição perfeita para o álbum.

Beck teve a ideia em uma viagem de trem, enquanto refletia sobre as músicas novas que havia escutado nos estúdios. As canções eram sombrias, viscerais. Pareciam respostas às acusações que Michael vinha enfrentando. Beck escreveu o nome “HIStory” em um bloco de notas e enviou ao empresário de Michael.

O fax não teve resposta. O tempo passou. E quando uma reunião foi marcada para apresentação de dezenas de conceitos visuais para a capa do disco, uma assistente anunciou: “Michael decidiu usar o título HIStory!” Dan ficou surpreso. A ideia que parecia ter sido ignorada foi silenciosamente adotada pelo próprio artista.

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Esse era o estilo de Michael: pensar em grande, trabalhar em silêncio e surpreender a todos. Ele não queria apenas uma capa de disco. Queria uma imagem eterna. Uma estátua. Um monumento. Algo tão imponente que deixasse claro o tamanho de sua dor, sua luta e sua importância.

A referência que Michael usou para esse conceito foi uma escultura russa chamada “The Motherland Calls”. Com 300 pés de altura, a obra homenageia os heróis da Batalha de Stalingrado. Michael queria algo assim: um símbolo de resistência, força e eternidade.

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A missão de transformar essa ideia em realidade ficou com a escultora Diana Walczak. Ela estava grávida de sete meses quando aceitou o desafio. O projeto seria feito com tecnologia de ponta, combinando escultura tradicional, digitalização 3D e manipulação gráfica.

Michael participou de uma sessão de fotos em Nova York. Embora pedissem que ele aparecesse sem maquiagem, chegou caracterizado e pronto para posar. Ele levou o ensaio a sério e queria que cada ângulo expressasse sua visão artística e emocional.

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A estátua foi inicialmente esculpida em argila, com 1,2 metro de altura. Depois, transformada em molde de resina. Mais de quatro mil linhas foram traçadas no modelo para permitir sua digitalização em altíssima precisão. Tudo era feito com obsessão por detalhes.

Michael aprovava pessoalmente cada etapa. Apontava correções minuciosas no rosto, nas roupas e até no tamanho das coxas. Era o corpo dele, a imagem dele, e ele queria que fosse perfeita — não para o público, mas para si mesmo.

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A versão final da capa mostrava apenas parte da estátua, com nuvens escuras ao fundo e uma iluminação dramática. Mesmo assim, o impacto foi gigante. Em Nova York, a imagem foi exibida em painéis imensos na Times Square, gerando reações no mundo inteiro.

Paralelamente, o encarte do álbum trazia imagens ainda mais reveladoras. Michael incluiu obras do artista austríaco Gottfried Helnwein, conhecido por retratar crianças em situações vulneráveis. Ele se identificava profundamente com esse tipo de arte.

A pintura “The Song”, de 1981, inspirou o conceito visual de “Scream”. Já “Little Susie” teve como referência a foto “Child of Light”, de 1972. Em ambas, o tema é o mesmo: crianças feridas, abandonadas, silenciadas — como Michael se sentia em relação à própria infância.

Um dos desenhos mais marcantes do encarte foi feito pelo próprio cantor. Mostrava uma criança encolhida num canto, sendo puxada por um fio de microfone. Era simbólico e real. Michael foi arrancado da infância para viver diante das câmeras.

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Nas letras de “Childhood” e “Little Susie”, a narrativa de abandono e dor se repete. Ele não cantava apenas histórias inventadas — ele cantava a si mesmo, usando metáforas para dar voz a traumas que jamais superou por completo.

Seis músicas foram escolhidas como singles do álbum: “Scream/Childhood”, “You Are Not Alone”, “Earth Song”, “They Don’t Care About Us” e “Stranger in Moscow”. Todas traziam fortes mensagens visuais, sociais ou emocionais.

HIStory não foi só um sucesso comercial — foi um projeto ousado que marcou a carreira de Michael como poucos. Ele não queria aplausos fáceis. Ele queria ser compreendido. Queria ser ouvido. Queria, pela primeira vez, contar sua história do próprio jeito.

Diana Walczak concluiu a escultura enquanto cuidava do recém-nascido — seu filho, Jackson. Entre mamadas e argila, finalizou o molde que se tornaria símbolo global. Ela só soube da real dimensão do projeto quando viu a imagem estampada na Times Square.

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A capa virou um ícone. A estátua virou lenda. E o álbum, um dos mais significativos da década. HIStory foi a obra onde Michael fez da dor um monumento, e da arte uma arma contra o esquecimento.

Michael Jackson enfrentou acusações, isolamento, humilhações públicas. Mas escolheu se expressar por meio daquilo que sabia fazer melhor: a arte. Transformou julgamento em melodia. Escândalo em ritmo. Traumas em imagens que o mundo nunca esqueceria.

Mais do que um artista pop, Michael foi um homem em busca de paz. E HIStory foi seu esforço mais honesto de alcançá-la. Uma tentativa desesperada de ser compreendido. De ser lembrado com justiça.

Porque no fim, não era só sobre discos vendidos ou estátuas erguidas. Era sobre deixar claro, para todos: “Essa é a minha história. E ninguém vai contar por mim.”