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Liberian Girl: A declaração de amor de Michael Jackson à África

Entre os grandes momentos da era “Bad”, há uma joia muitas vezes subestimada: Liberian Girl. Composta por Michael Jackson em 1984, a canção não nasceu em estúdio, mas sim no ambiente mais íntimo do cantor — sua sala de jogos. Durante uma pausa com seu fliperama, ele teve a melodia em mente e rapidamente a registrou em fita. Essa origem simples contrasta com o peso emocional e cultural que a música viria a carregar.

Inicialmente pensada para o álbum Victory, dos The Jacksons, a música foi deixada de lado e substituída por Be Not Always. Mas Michael sabia o que tinha em mãos. Liberian Girl era mais que uma canção: era uma ideia que precisava do momento certo. E esse momento chegou apenas com Bad, quando Quincy Jones desafiou Michael a compor a maioria das faixas do álbum — algo que permitiu ao astro total liberdade criativa.

A versão final de Liberian Girl surgiu em 1986 com o título provisório de Pyramid Girl. Em 1987, durante uma entrevista, Michael contou com leveza sobre sua criação espontânea. E embora a simplicidade da declaração possa enganar, havia ali uma profunda conexão emocional. Michael via naquela “garota liberiana” um símbolo de algo muito maior: sua herança, sua ancestralidade e o desejo de se reconectar com suas raízes africanas.

Produzida por Quincy Jones e Bruce Swedien, a música recebeu uma camada de sofisticação sonora e emocional. A leveza dos arranjos, os vocais sussurrados e a atmosfera envolvente transformaram a faixa em uma das homenagens mais sensíveis à África feitas por um artista pop ocidental. Era a visão de Michael sobre o continente: não como um lugar distante, mas como parte de si mesmo.

É impossível ouvir Liberian Girl e não perceber o cuidado em cada escolha. Desde o uso da língua suaíli na introdução — “Naku penda pia, Naku taka pia, Mpenzi we” (“Eu te amo também, eu te quero também, meu amor”) — até o videoclipe que reuniu dezenas de celebridades em homenagem ao artista. Era como se todos estivessem reunidos para algo que transcendia o entretenimento.

Michael nunca visitou a Libéria, mas isso não tornou sua homenagem menos autêntica. O país africano, fundado por ex-escravizados afro-americanos, simbolizava para ele mais do que um local geográfico. Representava esperança, reconciliação com o passado e um futuro onde suas raízes não seriam negadas, mas celebradas.

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