”Crescer nos anos 90 significava muitas coisas: fitas cassete rebobinadas com canetas, tardes inteiras gravando músicas da rádio e, para mim, uma obsessão absoluta por Michael Jackson. O Rei do Pop não era apenas um artista; ele era um universo inteiro que eu queria explorar. Meu tio Neal percebeu isso cedo e, no Natal de 1991, me deu de presente o álbum Dangerous em fita cassete. Eu não fazia ideia de que aquele presente moldaria minha vida de tantas formas.
Minhas músicas favoritas eram Black or White, Remember the Time, Heal the World e Will You Be There. Havia algo na voz de Michael, na energia de suas performances, que me transportava para outro mundo. Eu me tornei um pequeno estudioso de sua arte: passava horas no trampolim da minha mãe tentando imitar seus passos, assistia ao Video Hits todo fim de semana esperando ver seus clipes e até fiz um show para meus pais e seus amigos — fita adesiva no cabelo e tudo.
Então, em 1996, o impensável aconteceu: Michael Jackson anunciou que traria sua turnê HIStory para Adelaide, minha cidade natal. Eu soube naquele instante que precisava estar lá. Implorei aos meus pais, fiz promessas impossíveis e tentei convencê-los de todas as formas. Mas a resposta veio como um golpe seco: “Você tem apenas 12 anos. É muito jovem para um show desse porte.” Meu mundo desmoronou.
Nos anos seguintes, comecei a me perguntar se essa era a real razão. Será que meus pais tinham medo das polêmicas que cercavam MJ? Ou será que eles temiam que eu me tornasse um adulto excêntrico que gritava ‘hee-hee’ em público e agarrava a virilha sem motivo? Ou talvez — e essa doía mais — eles apenas não queriam gastar dinheiro? De qualquer forma, um acordo foi feito: minha mãe me levou até Montefiore Hill, onde pudemos ‘ouvir’ o show do lado de fora do estádio. Foi mágico e frustrante ao mesmo tempo.
Os anos passaram e, em 2009, veio outra chance. Jackson anunciou sua grandiosa turnê de retorno em Londres. Agora, com 25 anos, eu tinha dinheiro próprio e nenhuma restrição. Nada poderia me impedir de finalmente vê-lo ao vivo. Exceto o que realmente me impediu: a morte de Michael Jackson, poucos dias antes do início da turnê. A raiva que eu guardava contra meus pais por me privarem do show de 1996 só aumentou.
Então, na semana passada, algo inesperado aconteceu. Depois de 28 anos, meu rancor desapareceu. O motivo? Assisti a MJ The Musical no Lyric Theatre, em Sydney. Confesso que entrei com receio, achando que poderia ser apenas uma peça escolar mal produzida, mas eu estava completamente errado. O espetáculo foi uma revelação.
O musical não só recria o processo de montagem da Dangerous World Tour, como também mergulha na mente de Jackson através dos olhos de uma jornalista que acompanha os ensaios. A performance de Roman Banks é inacreditável: ele incorpora a voz, os movimentos e o magnetismo de MJ de uma maneira assustadoramente real. Pela primeira vez, senti que estava assistindo a um show de Michael Jackson.
E foi ali, no escuro do teatro, com lágrimas nos olhos, que percebi algo poderoso: eu finalmente tinha minha experiência de ver MJ ao vivo. Talvez não da forma como imaginei quando tinha 12 anos, mas de uma maneira que, de certa forma, curou aquela ferida antiga. Pela primeira vez, eu podia deixar aquele ressentimento para trás.
Então, mãe, se você estiver lendo isso, quero que saiba: te perdoo. E mais do que isso — vou te levar para Sydney para ver MJ The Musical. O teatro confirmou que podemos colocar um tapete no saguão para você ouvir o show inteiro, igual fizemos naquela noite em Montefiore Hill. Só que, dessa vez, eu estarei sorrindo.”
por Andrew Bucklow