‘‘Michael Jackson deixou de ser uma mera celebridade para se tornar uma estrela, prestes a alcançar o status de rei.’’
‘‘Off The Wall” foi o primeiro disco solo do cantor Michael Jackson em fase adulta na Epic Records, momento feliz de sua carreira em que pôde finalmente trabalhar sem o apoio da família, com toda a liberdade artística necessária, porém, contou com o auxílio do produtor Quincy Jones. Esta parceria ainda geraria dois álbuns que fariam história na pop music americana na década de 80 e influenciaria uma geração de novos artistas. Com este álbum, Michael saiu da sombra do garoto prodígio cristalizado em fase áurea como estrela principal dos Jackson 5, e , confirmou sua maturidade como intérprete e compositor de hits, aos 20 anos.
Foi durante as gravações do musical “The Wiz” (um remake com elenco negro para “O Mágico de Oz” tendo a diva Diana Ross como Dorothy), que Michael Jackson encontrou Quincy Jones, responsável pela trilha musical. Em uma conversa informal com o produtor, Michael perguntou se poderia indicar alguém para ajudá-lo na produção do seu novo disco. Quincy prontamente se ofereceu para fazê-lo, o que não foi muito bem aceito de imediato pelos executivos da gravadora. Era uma escolha arriscada.
Por mais prestígio que Quincy tivesse por trabalhar com artistas de renome da área de jazz (Ray Charles, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald) acreditavam que ele não encontraria uma linguagem pop e acessível para um público mais jovem, quando a disco music e o funk dominavam as paradas de sucesso. Indicaram Maurice White, mentor e líder do lendário “Earth, Wind & Fire”.
Não era habitual um artista novo ser apadrinhado por Quincy naquela época. Um ano antes, Michael havia lançado o álbum “Destiny” com seus irmãos, disco responsável por fazer justiça à autonomia artística deles e os tirou de uma frustrada expectativa quando não conseguiam atingir o mesmo nível de popularidade enquanto contratados da Motown Records, graças à “Shake your body (Down to the ground). Esta música marcou uma transição bem-vinda e definiu o caminho que iria desembocar no “Off the wall”.
Incendiando a pista — Michael era frequentador assíduo do “Studio 54”, famosa boate localizada em Manhattan, Nova York. Lá, ele pôde ouvir as músicas mais quentes da época e assimilou todas as referências possíveis para compôr as faixas que fariam parte do “Off the wall”.
Das dez faixas incluídas, três eram de sua autoria. Todas ambientadas nas pistas de dança: A hipnótica “Don’t stop ’til you get enough” (mais lembrada pelos brasileiros por ser tema de abertura do programa “Vídeo Show” exibido pela Rede Globo), “Workin’ day and night” e a arrasa-quarteirões, “Get on the floor”. Uma das favoritas do grande público, a balada “Rock with you” (Rod Temperton), apresenta Michael em esplendor vocal, assim como “She’s out of my life” (Tom Bahler), onde mostra sua competência enquanto intérprete, dando à canção a correta carga dramática pelo triste fim de um relacionamento.
Encerrando a audição, Michael canta “Burn this disco out”, quase que como uma metáfora de um momento hostil em que gênero passa a ser rechaçado pela crítica e considerado, negativamente como música puramente comercial, de menor valor artístico, relacionado à promiscuidade, drogas e ao público gay. Grupos de extrema direita chegaram a promover queimas de vinil em estádios para dar fim à era disco music.
Michael fechou a porta da década de 70 com um disco atemporal, que atravessou três décadas e permaneceu incólume, ainda sendo reverenciado e usado como referência.
Com “Off the wall”, além de ter vendido cerca de 20 milhões de cópias, entrando na lista dos discos mais bem sucedidos da história, Michael recebeu o seu primeiro Grammy Award em 1980 como solista na categoria “Melhor Vocal Masculino de R&B” por “Don’t stop ’til you get enough”. Michael deixou de ser uma mera celebridade para se tornar uma estrela, prestes a alcançar o status de rei.