Era para ser uma tarde comum, criativa e talvez até silenciosa, na casa de Michael Jackson. Mas quando se trata do Rei do Pop, o comum não existe. Lionel Richie, parceiro na composição de “We Are The World”, relembra — entre gargalhadas e um certo arrepio de memória — o cenário insólito em que nasceu uma das músicas mais emblemáticas da humanidade. “Era como escrever uma oração coletiva enquanto o caos rugia ao nosso redor”, diz ele, com aquele brilho nos olhos de quem sabe que viveu algo que ninguém acreditaria se não fosse verdade.

A casa de Michael era, segundo Richie, um “pequeno zoológico particular”. Em meio a folhas de papel, melodias nascendo e silêncios de concentração, havia também latidos de cães, assobios, gorjeios e, de repente, uma voz que gritava: “Cala a boca, cala a boca!”. Lionel conta que arregalou os olhos e perguntou: “Michael, o que está acontecendo?”. Ao que Michael respondeu, com a calma de quem vive entre animais falantes: “Ah, é só um pássaro discutindo com o cachorro”.

lionel-richie-and-michael-jackson-1024x682 Antes da Canção, o Caos: A inacreditável história por trás de We Are The World

Mas o verdadeiro susto ainda estava por vir. “Eu estava sentado no chão, escrevendo, focado na letra, quando ouço um ‘hssss… hssss…’”, lembra Richie, gesticulando como quem ainda sente o arrepio no corpo. E então, ela apareceu. Uma píton — sim, uma cobra gigantesca deslizando como um fantasma vivo por entre almofadas e acordes.

“Michael, pelo amor de Deus, o que é isso?!”, ele gritou, já pulando do chão. E o rei respondeu, tranquilíssimo: “Olha só, Lionel, nós encontramos! Sabia que ela estava aqui em algum lugar. Ela só quer brincar com você!”. Richie confessa que nesse momento, não foi o músico premiado ou o compositor experiente que reagiu. “Eu gritei como a última mulher em um filme de terror. E gritei alto!”

Mesmo com o coração acelerado, eles voltaram à música. E talvez tenha sido justamente essa mistura improvável de caos e genialidade que permitiu que “We Are The World” transcendesse o tempo, as culturas e as línguas. Porque ela nasceu em meio à vida — selvagem, barulhenta, imprevisível — como a própria humanidade que ela desejava abraçar.

Hoje, Lionel Richie ri da situação, mas também a reverencia. “Não é todo dia que você escreve um hino global enquanto uma píton aparece para dar sua contribuição silenciosa”, diz ele. E talvez tenha razão. Talvez, naquela sala, com pássaros mandando os cachorros calarem a boca e cobras sibilando entre os móveis, o mundo realmente estivesse ali. Pronto para ouvir sua própria canção.

One Comment

  1. A história é hilária, bastante “Jacksoniana”, porém faz parte de um momento histórico da musica mundial. Esses dois gênios compuseram a maior canção humanitária de todos os tempos, mais que ” imagine”, de John lennon, pois ” we are the world ” visava combater a miséria no continente africano. O projeto USA for Africa foi grandioso há 40 anos atrás, o Michael e o Lionel escrevendo a musica e o Quincy Jones produzindo com a participação de outras estrelas e a renda revertida à caridade. É emocionante ouvir : “There comes a time, when we hear a certain call, when the world must come togheter as one…”

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