O Dia em que Michael Jackson reinventou a Música e o Cinema com Thriller
Era 1983, e enquanto o mundo ainda absorvia o impacto de Thriller, o álbum mais vendido da história, Michael Jackson estava prestes a desafiar novamente as expectativas. Mais de quarenta anos depois, o clipe de “Thriller” permanece como um marco cultural, um curta-metragem musical que transcendeu o objetivo de vender discos e se tornou patrimônio da humanidade, reconhecido pela Biblioteca do Congresso dos EUA por seu valor “cultural, histórico e estético”.
Era o nascimento de algo muito maior do que a indústria podia compreender: era o nascimento de um fenômeno eterno.
A centelha para esse projeto épico surgiu quando Jackson, fascinado pelo filme Um Lobisomem Americano em Londres, decidiu unir forças com o diretor John Landis. A ideia de transformar um videoclipe em uma narrativa cinematográfica parecia ousada, quase impossível. Mas Jackson, em seu auge criativo, não se contentava com o comum — ele buscava algo que fosse a personificação de sua alma artística. E com “Thriller”, ele não apenas encontrou essa expressão: ele a esculpiu na história.

O ceticismo inicial de Landis se dissolveu rapidamente diante da paixão de Michael. O projeto precisava ser mais que um videoclipe; seria um verdadeiro curta-metragem, com roteiro, maquiagem, figurino e coreografias inéditas. “Ele queria ser o melhor em tudo que fazia”, lembrou Landis anos depois. E para isso, não mediram esforços: contrataram Rick Baker, mestre em efeitos especiais, para criar as icônicas transformações que tornariam Jackson e seus dançarinos irreconhecíveis.
Mas como financiar tamanha ambição? A gravadora, cega pelo sucesso já alcançado do álbum, se recusou a investir mais. Foi então que a genialidade de Jackson e Landis brilhou novamente: eles criaram The Making of Thriller, um documentário sobre os bastidores das filmagens, e o venderam para emissoras como a Showtime e a MTV. Com isso, não apenas garantiram o financiamento necessário, mas também criaram uma nova maneira de comercializar música e imagem — uma estratégia tão revolucionária quanto o próprio videoclipe.
Filmado em apenas cinco dias no coração perigoso de Los Angeles, “Thriller” não foi apenas uma produção; foi um acontecimento. Milhares de fãs lotaram as ruas apenas para vislumbrar o rei do pop de longe. No set, a visita de lendas como Marlon Brando, Fred Astaire e Gene Kelly apenas reforçava que ali estava sendo escrito um capítulo definitivo da cultura pop. Elizabeth Taylor e até Jackie Kennedy demonstraram sua fascinação, mostrando que o magnetismo de Jackson ultrapassava todas as barreiras sociais.

O impacto imediato foi avassalador: vendas de álbuns triplicadas, milhões de fitas VHS vendidas e um videoclipe que virou obsessão mundial. “Thriller” provou que a música podia ser contada em imagens com a mesma força emocional das canções. E mais: mostrou que um videoclipe podia ser cinema, podia ser arte, podia ser revolução. O que parecia delírio para executivos conservadores tornou-se uma explosão cultural que moldou toda a indústria musical nos anos seguintes.
Hoje, cada movimento de dança de Thriller, cada maquiagem deslumbrante, cada batida daquela música arrepiante ainda ecoa como uma lembrança viva do gênio de Jackson. Mais do que um produto de seu tempo, “Thriller” é uma cápsula de criatividade e ambição desenfreada, uma prova de que quando paixão e talento se encontram, os limites desaparecem. Michael Jackson não apenas criou um videoclipe; ele criou um mito.
E como todo mito, Thriller permanece inabalável diante do tempo — renascendo a cada geração, arrebatando novos fãs, encantando velhos admiradores e eternizando o momento em que o impossível foi alcançado, sob a luz pálida de uma lua cheia, em um cemitério improvisado onde até os mortos dançaram para celebrar a genialidade de um rei.