Quando a inocência é Julgada: A cruz que Michael Jackson carregou

Há algo de profundamente comovente e desconfortável quando olhamos para trás e enxergamos Michael Jackson não como o astro, mas como o homem. Um homem que desejava, acima de tudo, viver a simplicidade de uma infância negada. Um homem que, em meio a gritos histéricos e multidões enlouquecidas, só queria paz. Só queria amor. Só queria inocência. Mas o mundo, cruel em seus julgamentos, não soube acolher sua fragilidade. E pior — zombou dela.

Michael Jackson não nasceu para ser um semideus. Ele nasceu menino. Negro. Humano. Mas desde pequeno foi conduzido ao altar do entretenimento, e ali foi sacrificado aos poucos. Seus olhos, que tanto brilharam ao cantar “ABC” com os Jackson 5, foram aos poucos perdendo o brilho diante da escravidão da fama. Ser quem esperavam que ele fosse – e não quem ele era – foi seu maior fardo. E talvez o maior pecado da nossa geração tenha sido nunca perguntar: “Michael, você está bem de verdade?”

Michael Jackson estendia suas mãos em forma de músicas – clamando por compreensão – e muitos viraram as costas. A cruz que ele carregou foi feita de escárnio, fofoca e indiferença.

Na música “Will You Be There”, sua oração está ali, nua, crua, belíssima: “Todo mundo está tomando conta de mim… Você vai me mostrar? Você estará lá para mim?” Essa canção, longe de ser apenas trilha de um filme infantil, é quase um Salmo moderno. É súplica. É esperança. É confissão de um servo que desejava, mesmo em sua dor, acreditar que alguém – alguém – o ouviria.

Michael queria curar o mundo, queria fazer a diferença. Queria que crianças fossem vistas, não esquecidas. Que a bondade não fosse motivo de desconfiança. Mas seu esforço de viver fora dos padrões foi visto como ameaça. E o que não entendemos, o que não conseguimos controlar, preferimos destruir. O preço que ele pagou por ser diferente foi altíssimo: sua alma dilacerada por um tribunal que nunca o libertou da cela do preconceito.

Hoje, resta-nos a memória. E com ela, uma chance. A chance de olhar para outros Michaels por aí – artistas, amigos, desconhecidos – que gritam em silêncio por socorro. Estamos ouvindo? Estamos presentes? Estamos lá? Ou continuamos preferindo a distância cômoda do julgamento? Como cristãos, como seres humanos, devemos encarar a falha: não estivemos lá por ele. E ainda há tempo de sermos melhores para os próximos.

Meu desafio a você é simples, mas profundo: ame quem você ainda não entende. Ore por quem você gostaria de evitar. O mesmo amor que salvou a humanidade, pode salvar os esquecidos. E talvez, se tivéssemos feito isso com Michael, o desfecho seria outro. Que ele descanse na luz que sempre quis compartilhar — mesmo quando o mundo só lhe ofereceu sombras.

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