Em meio ao barulho do espetáculo, entre coreografias impecáveis e clipes revolucionários, há uma dimensão da vida de Michael Jackson que o mundo muitas vezes negligencia: sua generosidade silenciosa.
Enquanto tabloides exploravam escândalos, uma multidão de jovens sonhadores ganhava uma chance real de mudar de vida. Um deles foi Saul Williams — poeta, músico e ator — que hoje afirma com orgulho: “Michael Jackson pagou a minha faculdade.”
A história começa com um fascínio infantil. Saul, como milhões ao redor do mundo, foi arrebatado pelo talento magnético de Michael. A Victory Tour, em 1984, marcou sua primeira experiência transcendental como fã. Ao lado da irmã, passou a noite na fila por um ingresso. Não sabia, na época, que aquela mesma turnê renderia os 25 milhões de dólares que seriam doados ao United Negro College Fund — valor que sustentaria bolsas de estudo para centenas de jovens negros nos Estados Unidos.
Anos depois, já na faculdade, Saul escreveria um ensaio tão poderoso que chamou a atenção de sua professora de escrita criativa. Sem avisá-lo, ela submeteu o texto ao programa de bolsas financiado por Michael Jackson. O resultado veio em forma de carta, entregue com a mesma delicadeza com que a arte de Saul florescia: ele havia sido escolhido como beneficiário da “Bolsa de Michael Jackson para o Curso de Artes”. Sem alarde, sem manchete. Apenas transformação.
O gesto de Michael não era ocasional. Seus compromissos com causas sociais, especialmente ligadas à infância, educação e comunidades negras, foram constantes e substanciais — ainda que, muitas vezes, ocultos sob o véu do sensacionalismo midiático. A imprensa preferia explorar o excêntrico; o público, por vezes, esquecia do essencial: Michael era um doador compulsivo, um artista que entendia que sua missão ia além do palco.
Saul Williams não foi apenas beneficiado financeiramente. Ele foi, como tantos outros, inspirado. O garoto que cresceu ouvindo “Man in the Mirror” se tornou um homem que espelha a profundidade do impacto que a arte e a ação social podem ter quando caminham juntas. Sua carreira como poeta e ativista carrega a centelha de um legado que não se mede apenas em discos vendidos, mas em vidas tocadas — e, em muitos casos, salvas.
Num mundo onde o talento muitas vezes é lembrado, mas a generosidade esquecida, é fundamental resgatar histórias como essa. Porque por trás da luva brilhante e dos passos de moonwalk, havia um coração que batia em ritmo de compaixão. Saul Williams é prova viva de que, para muitos, Michael Jackson foi muito mais do que um ícone pop. Foi uma ponte. Um anjo anônimo. Um benfeitor invisível.