A questão é simples, mas poderosa: Michael Jackson se matou ou foi vítima? Quando o nome do Rei do Pop ecoa, a verdade não pode ficar nas entrelinhas, e menos ainda quando é manipulada pelas manchetes.
Quando Conrad Murray, o médico pessoal de Jackson, foi condenado pela sua morte em 2009, muitos fãs respiraram aliviados. Não se tratava apenas da sentença, mas de um veredito que simbolizava algo maior: a confirmação de que Michael Jackson não tirou a própria vida, pelo menos não intencionalmente.
Entretanto, a imprensa logo direcionou seu foco para o “vício” de Michael. Como sempre, os noticiários pintaram um retrato carregado de estigmas sobre dependência química, sugerindo que o cantor estava envolvido em uma espiral descontrolada de uso de medicamentos.
No entanto, esse retrato obscurece uma questão vital: não estamos falando de drogas recreativas, mas de medicamentos para dor e insônia, que foram essenciais para alguém que suportou as pressões extremas da fama desde a infância e suportou uma dor física profunda após uma queimadura grave no couro cabeludo.
Murray, no entanto, não era um personagem de segundo plano. Para os familiares, amigos e fãs, ele era a figura que deveria zelar pela saúde do astro. Como poderia, então, alguém com responsabilidades médicas facilitar um coquetel letal de propofol?
Michael Jackson precisava de cuidados adequados, e em vez de recorrer às drogas recreativas que muitos outros artistas usavam, ele buscou ajuda médica. Será que ele, ou qualquer paciente, poderia entender as complexidades químicas e os riscos do tratamento? Não há dúvida de que Michael dependia de analgésicos e sedativos, mas daí a intuir que ele se automedicava de forma irresponsável é uma linha perigosa e inverossímil, que a mídia traçou sem pudor.
O julgamento de Murray revelou falhas graves em sua prática, mas a narrativa de “vítima” para Murray e “viciado” para Jackson prevaleceu.
Muitos dos que falam sobre vícios tratam isso de modo simplista, esquecendo que a dependência de remédios não é movida por desejos de euforia, mas, no caso de Michael, pela busca por alívio de uma dor persistente e de um sono esquivo. Os espectadores, convencidos pelo sensacionalismo, viram um artista autodestrutivo, mas esquecem que a dependência pode ser alimentada pela necessidade legítima de tratamento médico.
As vozes mais próximas de Michael — filhos e amigos — oferecem uma versão diferente de quem ele era. Ele não era um pai ausente nem alguém que desmoronava no convívio familiar. Seus filhos, Paris, Prince e Blanket, nunca demonstraram sinais de negligência, comportando-se como exemplos de equilíbrio. Esse fato contradiz a ideia de um pai que usava remédios para fugir da realidade e negligenciar seus laços familiares. Infelizmente, a imprensa, com sua fome de escândalos, raramente reflete sobre essas nuances; em vez disso, transformou um ícone atormentado em um estigma.
Michael Jackson disse em sua música “Why You Wanna Trip on Me”: “Temos vício de drogas. Na mente dos fracos”. Talvez ele já pressentisse o julgamento público e a dureza com que sua luta pessoal seria tratada.
A mídia é implacável em seus próprios vícios e, com sede por vender uma imagem distorcida, omite o que realmente importa: Michael não queria morrer, e Murray não era uma vítima.
O que precisamos nos perguntar é o quanto estamos dispostos a questionar o que a mídia nos apresenta. Afinal, você já conectou seu cérebro na tomada hoje?